O Presidente da Ucrânia comparou, esta quinta-feira, o 25 de Abril à luta do povo ucraniano durante a invasão russa. A intervenção de Volodymyr Zelenskiy é a primeira de um chefe de Estado no Parlamento português por videoconferência.
“O vosso povo vai daqui a nada celebrar o aniversário da revolução dos cravos e sabem perfeitamente o que estamos a sentir”, afirmou o Presidente ucraniano, numa sessão solene marcada pelos aplausos de pé dos deputados ao fim dos 15 minutos de discurso. A vinda do chefe de Estado ucraniano contou também já com a anunciada ausência do PCP.
Antes, Zelenskiy sublinhou que a invasão do seu país, é o primeiro passo da Rússia para a conquista do Leste da Europa e a “seguir avançará pela Geórgia e pelos países Bálticos”, onde, afiança, imporá uma ditadura se conseguir.
Depois de ter descrito um cenário de horror que resulta da ocupação russa de várias partes do país, Zelensky pediu ajuda através do envio de armamento e da entrada da União Europeia. Reiterou ainda a necessidade de robustecer as sanções económicas à Rússia.
“Agradeço ao vosso Governo por todo o apoio, pelas sanções, é muito importante. Espero pela vossa decisão para que defendam o embargo do petróleo”, afirmou.
Pediu também que não haja um “único banco a funcionar na Europa pela Rússia”.
Rumo à União Europeia
O presidente ucraniano agradeceu também todo o apoio e ajuda humanitária dos portugueses, acrescentando que “os nossos povos se compreendem”, e pede ainda que se lute contra a propaganda russa.
"Espero pela vossa decisão para que defendam o embargo do petróleo".
“Sejamos livres e apoiemos os livres e civilizados. Acredito que nos vão apoiar porque a Ucrânia já vai a caminho da União Europeia”, acredita.
“Vocês estão no Oeste, nós mais a Leste, mas as nossas visões são iguais e sabemos que regras, direitos e valores deve haver na Europa”, sublinhou.
Zelensky frisou que a luta da Ucrânia “não é apenas pela nossa independência, mas sobrevivência, pelas nossas pessoas, para não serem torturadas e violadas, capturadas pela Rússia”.
E, de seguida, fez nova comparação entre a realidade portuguesa e ucraniana através da população do Porto − que representa metade das pessoas “deportadas” da Ucrânia para regiões mais “longínquas” na Rússia.
“Está a fazer o que outros regimes totalitários faziam. Os ucranianos não têm direito a ficar com famílias”, lamenta.
"Imaginem que Portugal todo abandonava o paí"
Em relação aos ucranianos que já foram obrigados a sair do país, Zelensky deu uma ordem de grandeza para os portugueses perceberem o que está a acontecer.
“Imaginem que Portugal todo abandonava o país. As nossas pessoas não são refugiadas, tiveram de sair. Esperemos que voltem em breve e em segurança”, disse.
“Está a fazer o que outros regimes totalitários faziam. Os ucranianos não têm direito a ficar com famílias”
Sobre a situação no terreno, o presidente ucraniano garante há pessoas que estão a ser colocadas em campos e que há raparigas violadas. Uma delas, garantiu, foi agredida porque não foi “simpática” com as forças russas.
Enquanto descrevia mais atrocidades cometidas pelos russos, entre as quais estão a proibição de ir à casa de banho aos reféns e a obrigação de cantar o hino russo, o presidente ucraniano acusou-os de levarem a cabo atrocidades difíceis de qualificar.
“Nem tentaram arrumá-los nem sepultá-los [os corpos] como deve ser. Matam para se divertir”, criticou.
Nesta descrição, disse ainda que a Rússia “continua a bombardear as cidades”, a destruir infraestruturas civis, omo escolas e igrejas.
Numa outra comparação com a realidade portuguesa, o presidente ucraniano referiu-se a Mariupol, “tão grande como Lisboa e perto do mar”.
“Está toda incendiada. Os russos fizeram dela um inferno”, qualificou.
Em relação à região de Kiev, Zelensky disse que “ainda não conseguimos descobrir todos os mortos na região de Kiev”.
“Nem tentaram arrumá-los nem sepultá-los [os corpos] como deve ser. Matam para se divertir”
Zelensky começou o périplo pelos parlamentos europeus, na Câmara dos Comuns, para discursar ao Parlamento britânico, a 13 de março.
Nele citou Winston Churchill: “Iremos combater até aí fim no mar, no ar, e continuaremos a lutar pela nossa terra, custe o que custar”. “Lutaremos nas florestas, nos campos, nas praias, nas ruas”.
Nos Estados Unidos, evocou Pearl Harbour e do 11 de setembro, e o “Eu tenho um sonho” de Martin Luther King.
Em pouco mais de um mês já falou em mais de 20 parlamentos de vários continentes.
No final, numa nota da presidência da República, Marcelo Rebelo de Sousa escreveu que o "Presidente da República agradece ao Presidente da República da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, a intervenção de hoje na Assembleia da República, dirigida a todos os Portugueses, e, mais do que isso, agradece, na sua pessoa, ao martirizado Povo Ucraniano o exemplo que tem dado ao mundo, há quase dois meses de guerra".
"Agradece a coragem, a resistência, o sentido de afirmação de independência, de soberania, de unidade nacional", rematou.