Nathalie Becquart. Uma das mulheres mais poderosas do Vaticano quer ouvir os jovens
06-08-2023 - 20:33
 • Susana Madureira Martins

A subsecretária-geral do Sínodo dos Bispos é considerada uma das mulheres mais influentes do Vaticano, mas garante que não está sozinha, "existem algumas outras". De passagem pela Jornada Mundial da Juventude (JMJ) de Lisboa, Nathalie Becquart fala da atual geração de jovens que "sofreu muito", mas que com este evento e com a presença do Papa "experimentam mais esperança".

A subsecretária-geral do Sínodo dos Bispos, a irmã Nathalie Becquart, reconhece que a Igreja Católica atravessa uma "crise" por causa dos casos de abusos sexuais, mas que está a ser feito um "caminho" para "continuar a encontrar maneiras de ser uma Igreja fiel a Cristo".

Em entrevista à Renascença, a freira francesa, que é considerada uma das mulheres mais influentes do Vaticano, garante que não está sozinha, "existem algumas outras".

De passagem pela Jornada Mundial da Juventude (JMJ) de Lisboa, Nathalie Becquart fala da atual geração de jovens que "sofreu muito", mas que com este evento e com a presença do Papa "experimentam mais esperança".

Diz-se que é a mulher mais poderosa da Igreja Católica. É verdade?

Não sei. Não vou dizer isso. Mas é verdade que estou entre as mulheres do Vaticano com a posição mais elevada. Não estou sozinha, existem algumas outras. Sou a "número dois" no que chamamos de Secretaria Geral do Sínodo. Esse é um grande processo de três anos para a Igreja ouvir as pessoas.

Esta Jornada Mundial da Juventude, em Lisboa, que desafios traz para a juventude e para a própria igreja?

Acho que com a JMJ nós, realmente, vemos uma Igreja com a sua dimensão internacional, porque aqui temos jovens de todo o mundo e isso é incrível. É a mesma Igreja em tantos países diferentes, maneiras diferentes de expressar a mesma face. E aqui vê-se essa alegria e pode olhar para os jovens. Estão juntos, oram juntos. Têm a experiência desta união e deste caminhar juntos. Experienciam a alegria do Evangelho, que é a boa nova que queremos compartilhar com os outros e, principalmente, porque sabemos e os jovens sabem, estamos num mundo muito difícil.

Há tantas crises, mudanças climáticas. Esta geração sofreu muito com a pandemia, temos a guerra na Europa. Portanto, são tantos os motivos para desesperançar que estar juntos, compartilhando, continuando juntos com este apoio mútuo, os jovens experimentam mais esperança e isso ajuda-os a continuar o caminho e a discernir sobre como como ter um mundo melhor. Traz uma mensagem de que é possível reunir, conversar, compartilhar e experimentar uma espécie de comunhão e alegria e tantas pessoas em todo o mundo anseiam por isso.

Esta experiência na JMJ pode ser um dos pontos da discussão no Sínodo de Roma?

De certa forma sim, porque os jovens já estão envolvidos. Haverá também alguns jovens como membros do Sínodo e a nossa equipa aqui da Secretaria Geral do Sínodo, estamos aqui para ouvir os jovens e continuar a ouvi-los.

Todas as pessoas são chamadas a dar a sua voz e os jovens em especial. Por isso, é muito importante ouvi-los aqui e trazer a voz dos jovens também na Assembleia Geral do Sínodo em outubro.

Esta JMJ acontece em tempos difíceis aqui em Portugal porque temos os casos de abuso sexual. Este é um desafio para a Igreja?

A Igreja está a enfrentar esta crise, esta realidade dos abusos e, de certa forma, o Sínodo, e a ajuda para que a Igreja se torne mais sinodal, significa uma Igreja de corresponsabilidade, que ouve, acolhe, é um caminho para livrar-se de qualquer tipo de abuso e continuar a encontrar maneiras de ser uma Igreja fiel a Cristo, mas humilde, reconhecendo falhas.