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Num ano de pandemia, entre março de 2020 e fevereiro de 2021, ficaram por realizar cerca de 450 mil exames para deteção dos cancros da mama, do colo do útero, do colon e do reto e foram feitas 540 mil cirurgias, menos 25% do que no período entre março de 2019 e fevereiro de 2020.
Já no que toca às urgências hospitalares, a procura por parte dos utentes caiu 40% e não atingiu os quatro milhões de episódios.
São conclusões de um estudo conjunto realizado pela Ordem dos Médicos, pela Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH) e pela farmacêutica Roche, que vai ser apresentado esta quarta-feira numa conferência em Lisboa, no âmbito da petição do Movimento 'Saúde em Dia', que reclama mais atenção para os doentes não Covid.
Para o bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, “é tempo de recuperar, de forma organizada, rápida e eficiente, todos os doentes que ficaram por diagnosticar, tratar ou cuidar”.
Nesse sentido, os subscritores pedem aos deputados que discutam o impacto da pandemia na saúde dos portugueses e, em particular, na daqueles que ficaram privados do acesso aos serviços.
Por outro lado, pedem que recomende ao Governo um diagnóstico da situação, crie um plano de recuperação e inclua no Orçamento do Estado os necessários meios financeiros para fazer face à recuperação dos doentes não Covid.
Num último parágrafo, pedem que a Saúde seja considerada uma área prioritária, garantindo os meios humanos e técnicos que permitam um acesso equitativo aos cuidados de saúde.
Ver o que está mal e corrigir
O bastonário da Ordem dos Médicos diz à Renascença que o foco ainda está muito na pandemia. “Mais de 90% dos médicos de família passaram a seguir os doentes Covid, foram requisitados para ir para os lares e agora, estão na vacinação”, lembra Miguel Guimarães.
Por isso, diz, “é preciso recuperar, ver o que está mal e tomar algumas decisões importantes para, rapidamente, identificar os doentes que estão fora do sistema e que são milhares. Por isso, é fundamental libertarmos os médicos de família, dar-lhes tempo para verem a sua lista de doentes e acompanhá-los”.
E aumentar o seu número já que neste momento, mais de um milhão de portugueses não tem médico de família. “Para a vacinação e para o trace Covid podemos ir buscar médicos que estão fora do sistema”, acrescenta.
O bastonário mostra-se particularmente preocupado com os doentes que ainda não estão diagnosticados.
Dando como exemplo a área da oncologia, Miguel Guimarães lembra que, no primeiro ano de pandemia, cerca de 450 mil rastreios não foram feitos.
“Esses rastreios geram normalmente um número significativo de cancros que sendo diagnosticados precocemente, podem ser curados. Como não foram feitos, as pessoas vão chegar aos serviços de saúde num estado mais avançado da doença, vão precisar de tratamentos mais complicados e que em muitos casos, já não são curativos. Há um grande prejuízo para os doentes e muitos não são recuperáveis. A doença não para e, ou agimos já, ou há muitas pessoas que acabam por falecer”, avisa.
O que ficou por fazer para os doentes não Covid-19?
Tendo por base os dados de março de 2021 a fevereiro de 2021 publicados no Portal da Transparência do Serviço Nacional de Saúde e comparando com os doze meses anteriores (antes da pandemia) a consultora MOAI reuniu os resultados:
- As consultas presenciais nos Centros de Saúde caíram 46%, ou seja, realizaram-se menos 9,3 milhões de consultas;
- Os contactos médicos não presenciais cresceram 130%;
- O saldo é de mais 2,5 milhões de contactos médicos durante a pandemia;
- Os contactos de enfermagem presenciais reduziram-se em 20% e pouco ultrapassaram os 16 milhões;
- Apesar do aumento dos não presenciais, mais de três milhões de atos de enfermagem ficaram por fazer;
- No total, entre março de 2021 e fevereiro de 2021 realizaram-se menos 13,5 milhões de contactos médicos e de enfermagem presenciais nos cuidados de saúde primários do que no ano anterior (março de 2019 a fevereiro de 2020);
- Nos cuidados de saúde hospitalares, a quebra nos contactos ultrapassou os 4,5 milhões;
- Realizaram-se 10,8 milhões de consultas externas, ou seja, menos milhão e meio do que no período homólogo. Destas, mais de 700 mil eram primeiras consultas e as restantes, subsequentes;
- Foram feitas 540 mil cirurgias, menos um quarto do que no ano anterior- Mesmo entre as urgentes, houve uma redução de 13%. Ficaram por realizar 176 mil;
- A procura pelas urgências hospitalares caiu 40% e não atingiu os 4 milhões. Desde março deste ano regista-se um aumento significativo, mas ainda sem atingir os níveis de 2019;
- Os internamentos tiveram uma quebra de 18% e foram 1,244 milhões;
- 30 milhões de exames complementares de diagnóstico ficaram por realizar;
- Número de doentes com diabetes com o exame dos pés realizado caiu 34%, atingindo 210 mil pessoas. A percentagem de diabéticos com exame oftalmológico também caiu 20%
- Na área oncológica, ficaram por fazer quase 450 mil exames para deteção do cancro da mama, do colo do útero, do colon e do reto.