O livro "Via Sacra África" foi escrito a pedido da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) por D. Jesús Ruiz Molina, bispo auxiliar de Bangassou, na República Centro Africana, e é um grito de alerta para a situação que se vive por todo o continente africano, “escravizado pela ganância, violentado pelo terrorismo, mergulhado tantas vezes numa pobreza quase obscena”.
Segundo o comunicado enviado à Renascença pela AIS “são 14 textos de denúncia de uma realidade brutal que atinge milhões de pessoas” e que mostra como “a vida humana vale pouco nesta região do globo”.
D. Ruiz Molina fala em nome “dos sem voz, dos excluídos, dos mais pobres” de todo o continente, mas em especial dos países da África subsariana: Nigéria, Mali, Burkina Faso, Níger, Chade, Camarões, Moçambique, República Democrática do Congo e República Centro-Africana. Diz que África “vive uma Via Sacra permanente”, e denuncia as situações mais dramáticas, a começar pela fome.
“Comer uma vez por dia é uma aventura que muitos não se podem permitir”, lembra o prelado, nomeadamente nos inúmeros campos de refugiados que existem. “Dentro e fora destes campos, há crianças com fome, jovens com fome, adultos com fome, idosos com fome. Roubam por causa da fome, matam por causa da fome. Que má conselheira é a fome! Quantos caem por causa dela!”, escreve.
D. Ruiz Molina fala também na “fome de justiça”, em especial para as mulheres que são as principais vítimas da guerra, e se tornaram “o alvo da brutalidade dos homens armados sem piedade”. E lembra igualmente a “fome de felicidade” que marca a vida de tantas crianças-soldado, que têm o futuro comprometido, porque “muitas nasceram na guerra, crescem na guerra. A guerra roubou-lhes a inocência e foram-se embrutecendo”, diz.
A Fundação AIS espera que esta Via Sacra, que propõe aos cristãos como reflexão para a Quaresma, alerte também “a consciência dos líderes do mundo Ocidental, dos países ricos, das potências económicas”, para que deixem de olhar para África como um “lugar subalterno”.
As receitas da venda do livro “Via Sacra África” vão reverter na totalidade para os projetos da AIS de apoio aos cristãos no continente africano, onde muitos são vítimas de perseguição e intolerância religiosa e dependem totalmente da ajuda da Igreja.