Anualmente, a costa portuguesa é a porta de entrada de 14,5 toneladas de cocaína, em média. Só em 2022, chegaram mais de 16 toneladas deste tipo de droga ao território nacional, mais seis do que em 2021.
Em entrevista à Renascença, Artur Vaz, coordenador da Unidade de Combate ao Tráfico de Estupefacientes (UNCTE) da Polícia Judiciária (PJ), realça um "aumento das quantidades de cocaína e de haxixe apreendidas". Só em cocaína transportada por via marítima, chegaram a Portugal "mais de 14 toneladas".
"E [chegaram] quase duas toneladas por via aérea, o que é significativo e leva a crer que estas organizações criminosas estão a recorrer cada vez mais à via aérea para introduzir droga no continente europeu."
Quando é usada a via marítima, "por regra, não são pequenos botes, mas embarcações com condições para fazerem o trajeto, com potencialidades muito grandes", afirma Artur Vaz.
"Cada vez mais as organizações criminosas privilegiam os contentores, onde enviam cocaína dissimulada nos mais diversos tipos de mercadorias lícitas, por exemplo, como se fosse carvão" e o fenómeno está a preocupar países com grandes portos, que não é o caso português, "mas também temos alguns portos nacionais que nos causam preocupações e aos quais estamos atentos", sublinha.
Nos últimos dois anos, houve um aumento das quantidades de cocaína traficada: "estamos a falar, em 2021, na ordem das dez toneladas e em 2022 mais de 16 toneladas", revela o coordenador da UNCTE, na entrevista dada à Renascença.
Em Portugal, no topo das drogas mais consumidas está a canábis - em forma de haxixe, liamba, erva -, depois a cocaína, a heroína e, por fim, as drogas sintéticas e substâncias psicoativas, acrescenta Artur Vaz.
"Portugal, ao contrário do que se tem referido, não é a grande porta de entrada da droga na Europa. Há outros países em que isso acontece e basta ler relatórios europeus e internacionais para o perceber."
Quais são as rotas da droga?
A cocaína provém da América Latina, onde há três grandes países produtores. A droga transita depois para outros países, antes de, no final, ser escoada para o resto do mundo.
"Por um lado, há tráfico para consumo interno. Portugal, fruto da localização geográfica, está no ponto mais ocidental da Europa, muito próximo de África, e isso, de alguma forma, leva a que, com alguma frequência, grupos organizados utilizem o território nacional e as nossas águas para transitar consideráveis quantidades de haxixe e cocaína para países europeus."
Artur Vaz revela que entre as grandes prioridades para este ano está a recuperação de ativos das redes de tráfico, porque as autoridades estão conscientes de que neste tráfico "há criminalidade associada ao branqueamento de capitais, corrupção, entre outros crimes".
"Se falarmos em heroína, com muito consumo na Europa, ela vem do Afeganistão, que é o grande produtor. Vem em rotas do Leste. Aí, o nosso território não é afetado. A cocaína já vem mais da América Latina e se falarmos de haxixe sabemos que é o norte de África o grande produtor. Aí, a Península Ibérica já é afetada por essas rotas, porque estamos muito próximos", explica o responsável pela UNCTE da PJ.
Artur Vaz frisa ainda que a área do combate à droga necessita de mais efetivos, uma vez que só assim conseguirá "ir mais além nos resultados". Neste sentido, o coordenador garante que a Direção Nacional da PJ está empenhada nesse reforço.