São olhares ansiosos que se cruzam à porta de um centro de apoio aos desempregados. No CATE (Centro de Apoio ao Trabalho e Empreendedorismo) da Avenida Rio Branco, São Paulo, avolumam-se pessoas que procuram uma oportunidade de garantir um novo rumo para as suas vidas.
Uns esfregam as mãos, revelando impaciência, outros olham insistentemente para o balcão, aguardando pelo atendimento que tarda em chegar. É um cenário que se repete num país de quase 10 milhões de desempregados registados.
São cidadãos anónimos que, não raras vezes, rumam à maior cidade brasileira para obter trabalho, mas facilmente caem nas malhas do desemprego.
As filas intermináveis misturam-se num cenário de angústia onde pessoas sem abrigo se acumulam nos sujos passeios de São Paulo. Um quadro agravado com a pandemia, apontam os paulistas. Se uns pretendem construir um lugar na sociedade, outros caíram já na chamada invisibilidade social e já não imaginarão uma vida melhor.
Mesmo entre os que procuram emprego, as perspetivas não são as mais positivas, mas, a poucos dias das eleições, alguns acreditam que numa mudança em Brasília e no regresso de Lula ao poder possa estar a solução.
Palavras que contrariam, contudo, um sentimento traduzido pela estatística e pelos inquéritos de opinião. O otimismo com a economia bate recordes durante o Governo Bolsonaro. Um recente estudo da Datafolha mostra estar a aumentar a perceção de melhoria económica e de condições sociais mais favoráveis.
Três em cada 10 eleitores sustentam essa tese, o que traduz o maior grau de otimismo desde 2015. O desemprego continua a cair com uma taxa abaixo dos 10% pela primeira vez em muitos anos. Bolsonaro capitaliza estes dados em clima de campanha eleitoral, sublinhando-os como a tradução do que diz ser a atuação positiva do seu Governo. Uma mensagem intensamente difundida pelas redes sociais.
Ana Carla Abrão Costa, economista da Universidade de São Paulo e da Consultora Oliver Wyman, diz à Renascença ser "inegável uma evolução económica favorável e consequente criação de emprego", cenário para o qual "contribuiu, entre outros fatores, a política fiscal do atual governo", aponta.
Para a economista, faltará, contudo, perceber se se trata de um movimento estrutural ou apenas conjuntural. Ana Carla Abrão Costa alerta ainda para a necessidade de se avançar com algumas medidas, como baixa do preço dos combustíveis e a orçamentação do apoio família "para que o valor dos salários dos novos empregos não seja anulado pela alta de preços"
Melhoria económica no Brasil será apenas perceção ou realidade? No próximo domingo, os brasileiros poderão responder.