Mais de 40% dos portugueses consideram que a corrupção aumentou em 2020, apontando banqueiros, deputados e empresários como os mais corruptos, revela a Associação Transparência Internacional no seu Barómetro Global da Corrupção.
O relatório assenta em inquéritos conduzidos entre outubro e dezembro do ano passado a mais de 40 mil pessoas em 27 países europeus e os resultados indicam que 41% dos inquiridos em Portugal declararam que a corrupção piorou nos 12 meses anteriores.
Outros 41% declararam que a corrupção está na mesma e só 13% consideram que houve melhorias. No resto dos países europeus, a perceção de que a corrupção aumentou varia entre 65% dos cidadãos de Chipre e os 16% na Finlândia.
Em Portugal, 88% das pessoas acreditam que existe corrupção dentro do próprio Governo e 41% pensam que aumentou nos últimos 12 meses. Quanto ao combate à corrupção, 60% da população dizem que o executivo é ineficiente e 63% consideram que sofre influências indevidas de pessoas com grande poder político e/ou económico.
Neste indicador, a média na União Europeia que considera que o Governo faz um bom trabalho é 49% e uma média de 43% dos europeus acha que faz um mau trabalho.
“Estes resultados deveriam ser um alerta para os governos nacionais e para as instituições da União Europeia. A corrupção está a minar a confiança do público e os decisores políticos precisam de ouvir as preocupações do público”, defende Michiel van Hulten, diretor da Transparency International EU na nota enviada à redação, acrescentando que “há muito que pode ser feito no imediato para remediar estes problemas, tais como aumentar a transparência no lobbying – tanto a nível da União Europeia, como a nível nacional –, e combater a evasão fiscal. Além disso, as políticas da União Europeia para proteger os denunciantes e combater o branqueamento de capitais devem ser efetiva e rapidamente transpostas para o direito nacional”.
Quem são os mais corruptos?
Um terço dos inquiridos (33%) considera que a maior parte dos banqueiros é corrupta, enquanto 27% apontam deputados e executivos empresariais.
Autarcas (19%), governantes (16%), primeiro-ministro (15%), juízes e magistrados (11%), Presidente da República (5%), polícia (5%) são outras respostas apontadas pelos inquiridos.
De acordo com os resultados gerais, um terço dos europeus considera que a corrupção está a piorar no seu país e quase metade afirma que o seu Governo está a fazer um mau trabalho a enfrentar o problema.
Cidadãos pagam subornos?
Quase três em cada dez residentes na União Europeia relataram já ter pago um suborno ou feito uso de ligações pessoais e/ou familiares para aceder a serviços públicos. Isto equivale a mais de 106 milhões de pessoas no espaço europeu. Em Portugal, apenas 3% das pessoas reconheceram ter pago algum tipo de suborno, mas 48% usaram ligações pessoais e/ou familiares para aceder a serviços públicos.
Quanto aos cuidados de saúde, apesar de apenas 6% das pessoas admitirem ter pago um suborno para aceder a serviços de saúde, 29% dos residentes da União Europeia dizem ter usado ligações pessoais e/ou familiares para obter cuidados médicos. Em Portugal, este número chega a quase metade (46%).
Como é vista a contratação pública?
Segundo o barómetro, mais de metade dos europeus pensa que as regras da contratação pública não são seguidas à risca pelos governos. Pelo contrário, acreditam que os contratos públicos são atribuídos através de subornos e ligações pessoais entre governantes e empresários.
Em Portugal 63% das pessoas entende que a administração central e local se encontra capturada por interesses empresariais e privados. Além disso, 74% dos portugueses acreditam que as grandes empresas fogem ao pagamento de impostos.
Qual o papel da sociedade civil?
A maioria dos inquiridos em Portugal (85%) acredita que as pessoas comuns podem fazer a diferença no combate à corrupção, com 9% a declararem o contrário.
No caso específico da extorsão sexual, 6% dos inquiridos em Portugal afirmaram ter sido vítima ou conhecer algum caso, um pouco abaixo da média europeia, que é de 7%.
Os resultados do inquérito são claros sobre o envolvimento da sociedade civil na luta anticorrupção: quase dois terços (64%) dos europeus acreditam que os cidadãos podem fazer a diferença no combate à corrupção.
Na sua apreciação geral, a Transparência Internacional afirma que, "apesar da convicção generalizada do contrário, a corrupção é um problema na União Europeia" e refere que, "embora as taxas de suborno possam ser baixas, muitas pessoas usam ligações pessoais para obter serviços, enquanto os governos parecem estar a fazer poucos progressos na luta contra várias formas de corrupção".