Todos os anos cerca de 115 mil doentes chegam aos hospitais em risco nutricional ou malnutridos, um número que tem vindo a aumentar. De acordo com Aníbal Marinho, diretor do Serviço de Cuidados Intensivos da Unidade Local de Saúde de Santo António e presidente da APNEP (Associação Portuguesa de Nutrição Entérica e Parentérica) são doentes mais frágeis, com maiores riscos, que ficam mais tempo internados.
Segundo Aníbal Marinho, “dois em cada quatro doentes nos hospitais estão em risco de malnutrição", o que representa "quase o dobro da média Europeia”.
O número pode estar subavaliado, porque nem todos os hospitais fazem o obrigatório rastreio nutricional. A culpa, diz o responsável, foi da Covid-19: “com a pandemia houve alguns esquecimentos ou alguma dificuldade em implementar a iniciativa. Atualmente estamos a começar a implementar de forma progressiva”.
A malnutrição, cujo tratamento é fundamental para a recuperação, mobilidade e autonomia do doente, está fortemente associada ao aumento da mortalidade e morbilidade, assim como à permanência hospitalar prolongada, o que tem custos.
“Aquilo que nós estimamos, e são dados calculados por economistas que trabalham em hospitais, é que a malnutrição custa cerca de 225 milhões de euros ao Estado, por ano”. Para Aníbal Marinho, esta questão tem de ser uma prioridade, já que, “se nós interviéssemos de forma efetiva, isto resultaria numa poupança de 166 milhões de euros ao Estado”.
O diretor do Serviço de Cuidados Intensivos da Unidade Local de Saúde de Santo António explica que a malnutrição “está muitas vezes relacionada com a doença em si, já que os doentes, sobretudo idosos, comem menos”. Mas a situação em Portugal agravou-se com a crise económica.
“Cada vez temos mais gente em fragilidade social, e muitas pessoas da terceira idade não têm capacidade monetária para se alimentarem de forma adequada. Algumas passam fome” explica Aníbal Marinho. O médico diz que o problema maior são as proteínas, que são mais caras e isso leva a que “neste momento as pessoas mais frágeis passem fome proteica”.
De acordo com Aníbal Marinho, é essencial identificar e tratar a malnutrição precocemente, e isso só se consegue criando condições nos cuidados primários - onde muitas vezes nem há nutricionistas.
“Porque os doentes nesta situação que chegam aos hospitais são uma pequena amostra” e, para além disso, o problema não se trata a nível hospitalar. “Era o mesmo que pensar que se consegue tratar uma hipertensão arterial no hospital. No hospital identificam-se os casos mas, depois é preciso que o doente seja medicado e seguido em ambulatório. A malnutrição é a mesma coisa, é necessário que exista uma estratégia de combate à malnutrição em ambulatório".
De resto, adianta, “a realidade em Portugal mostra que muitos doentes que entraram nos hospitais malnutridos acabam por voltar ao internamento, porque não conseguem assegurar a nutrição adequada casa”.
Estas e outras questões associadas à nutrição entérica e parentérica vão estar em debate no XXVI Congresso da APNEP, a decorrer entre nos dias 15 e 16 de abril, na Fundação Dr. Cupertino de Miranda, no Porto.