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Alice Gato, aluna de 12º ano no Liceu Camões, em Lisboa, e Gil Ubaldo, estudante de Ciência Política na Universidade Nova, são dois dos organizadores da greve pelo clima, que tenta repetir esta sexta-feira o êxito de março.
Em entrevista ao programa Hora da Verdade, da Renascença e jornal "Público", anunciam já nova e maior luta para o reinício das aulas, em setembro.
Estamos em campanha eleitoral para as europeias e vários partidos incluíram referências às alterações climáticas em programas e discursos. É apenas oportunismo político ou começam a estar preocupados com este assunto?
Gil Ubaldo (G.U.): Nunca podemos excluir oportunismo político. O que é facto é que alguns dos partidos candidatos às europeias sempre demonstraram preocupações ambientais. Outros nem tanto, até recentemente. Temos de ver no que é que isso se vai traduzir: medidas e trabalho em Bruxelas ou palavras soltas?
Vocês defendem uma das medidas recentemente discutidas no Parlamento, o direito de voto aos 16 anos?
G.U.: Eu já posso votar, vou fazê-lo pela primeira vez no domingo e estou muito entusiasmado.
Alice Gato (A.G.): Eu defenderia. Temos pessoas tão jovens e tão preocupadas a fazer tão mais do que outras que têm direito a votar e não usufruem dele — isso deixa-nos a pensar se não faz sentido podermos votar aos 16. E somos nós quem, de facto, está mais preocupado com esta temática, pelo que temos visto, mas não só. Espero que esta preocupação cresça e para setembro está marcada uma greve geral para admitir que este não é um problema só da nossa geração.
Mas greve geral como?
G.U.: Uma greve geral que gostávamos que tivesse o apoio de sindicatos e organizações, vamos enviar uma convocatória. É uma greve geral da sociedade, portuguesa e mundial. As alterações climáticas não podem ser um ponto em muitos, são o ponto. Sem ação contra as alterações climáticas não há outros pontos, não há espécie humana para discutir outras coisas ou ter outros problemas. Não há planeta B.
E já há uma data?
A.G.: 27 de setembro.
E é possível ser-se um jovem ativista ambiental em 2019 e praticar um consumo consciente ou as palavras diferem muito na ação do dia-a-dia?
A.G.: Que sentido faz dizerem-nos para não usarmos plástico se a indústria que o produz continua a crescer por todo o mundo? É culpar pessoas que podem não ter outra escolha para mascarar o que está a ser feito a grande escala. Os políticos têm varrido o problema para debaixo do tapete, alegando que as pessoas é que têm que se preocupar com o ambiente.
G.U.: Apontar o dedo a quem não fecha a torneira ao lavar os dentes é uma forma de tornar invisível o cerne da questão: as indústrias altamente poluentes e a inacção governamental que não proíbe este tipo de ataques ao ambiente.
No rescaldo do protesto de Março, Greta Thunberg disse que “os jovens saíram à rua, mas nada mudou”. Ainda acreditam que esta frase vai deixar de fazer sentido?
A.G.: Espero que sim. Falava-se muito pouco ou quase nada de alterações climáticas na comunicação social, do nada surgiu a greve e o Extinction Rebellion — e isto fez todo um alarido.
G.U.: Quando dizemos que isto é o começo pode ser ingrato para com aquelas pessoas que estão nesta luta há décadas, mas os jovens nunca estiveram tão predispostos a fazer coisas diferentes. Ou acontece uma mudança rápida até 2030 ou estamos condenados. Já estamos em crise, mergulhados nela, literalmente. Não há outra escolha senão abanar com os alicerces.
A.G.: Se estivermos calados em casa, de certeza que o processo vai ser mais demorado.