"Operação Gota d'Água". Câmara de Macedo alvo de buscas da PJ
22-11-2023 - 14:52
 • Inês Braga Sampaio

Em causa suspeitas de adulteração de análises de água destinada ao consumo humano, confirma a autarquia, que manifesta "total disponibilidade para colaborar com as autoridades".

A Câmara Municipal de Macedo de Cavaleiros, do distrito de Bragança, confirma que foi alvo de buscas pela Polícia Judiciária (PJ), esta quarta-feira, no âmbito da "Operação Gota de Água", relacionada com suspeitas de adulteração de análises de água destinada ao consumo humano.

Em comunicado, a autarquia manifesta "total disponibilidade para colaborar com as autoridades, em todas as matérias que sejam entendidas como necessárias para apuramento dos factos".

"Face às restrições processuais decorrentes da fase de inquérito que se encontra em curso, o Executivo Municipal não tem esclarecimentos adicionais a prestar", pode ler-se no comunicado da Câmara.

As autarquias de Vila Flor e de Mirandela também já tinham confirmado ter sido alvo de buscas da PJ esta quarta-feira.

Buscas em nove concelhos e 20 detenções


A Polícia Judiciária realizou buscas, esta quarta-feira, num total de nove concelhos - dos quais são agora conhecidos três - e deteve 20 suspeitos por falsificação de análises de água destinada ao consumo humano.

Em comunicado, a PJ dá conta de "60 buscas domiciliárias e não domiciliárias, que visaram diversos particulares, empresas e entidades públicas sitas em diferentes concelhos do território nacional, designadamente em Aveiro, Braga, Bragança, Coimbra, Guarda, Lisboa, Porto, Vila Real e Viseu". Foram constituídos "vários arguidos".

Em causa suspeitas da prática dos crimes de abuso de poder, falsidade informática, falsificação de documento agravado, associação criminosa, prevaricação, propagação de doença e falsificação de receituário.

"A investigação tem por objeto a atividade fraudulenta de um laboratório responsável pela colheita e análise de águas destinadas a consumo humano, águas residuais, águas balneares, piscinas, captações, ribeiras, furos, poços e outras", lê-se no comunicado da PJ.

Os 20 detidos no âmbito desta investigação, com idades compreendidas entre os 25 e os 61 anos, são dirigentes e funcionários do laboratório, e funcionários e alguns eleitos locais nas entidades gestoras das águas, nomeadamente câmaras ou empresas municipais criadas para o efeito.

Vão ser presentes a primeiro interrogatório judicial, na quinta-feira, no Tribunal de Instrução Criminal (TIC) do Porto, para aplicação das medidas de coação tidas por adequadas.

A investigação, que já dura há algum tempo, foi iniciada com base em denúncias de má qualidade da água fornecida por algumas autarquias.

Laboratório sob suspeita é de Bragança

Segundo o coordenador do departamento de investigação criminal da PJ de Vila Real, António Trogano, o laboratório - "devidamente identificado" - suspeito de falsificar análises de água é do distrito de Bragança.

"A investigação permitiu perceber que uma prática deste género [de crime] impunha uma divisão de tarefas, um acordo prévio e um objetivo inicialmente decidido, nomeadamente que o laboratório beneficiava no sentido em que não fazia [o serviço] e recebia por fazer, ou adulterava em beneficio de um cliente, que também beneficiava, dado que não tinha de tomar medidas de fechar ou interromper o fornecimento de água", esclarece o inspetor, esta quarta-feira, em conferência de imprensa.

Trogano admite que "havia" risco para as populações, na medida em que "o 'modus operandi' verificado consistia na recolha e adulteração da recolha ou então mesmo na falsificação dos próprios resultados obtidos".

A água não tinha "cabal monitorização e acompanhamento da qualidade que devia ter", explica, embora garante que, até agora, não há quaisquer relatos de pessoas que tenham sofrido algum tipo de doença pelo consumo de água indevidamente recolhida e analisada.