“Assumo perante vós, com honra e entusiasmo, um compromisso de serviço público”. Assim começou Mário Centeno o seu discurso no salão nobre do Ministério das Finanças, onde tomou posse como governador do Banco de Portugal, nesta segunda-feira de manhã.
Substituindo no cargo Carlos Costa, o ex-ministro das Finanças realçou o seu percurso académico – nomeadamente, a passagem pela Universidade de Harvard – e deixou mensagens sobre a independência da instituição, em resposta às dúvidas levantadas pela sua nomeação logo a seguir a ter deixado o Governo.
“A independência do Banco de Portugal não se questiona ou se impõe, não cabe ao Banco de Portugal ter estados de alma e muito menos ao seu governador. Mas também não cabe ao Banco de Portugal estar fechado sobre si próprio. Isso não assegura a independência, apenas a irrelevância”, afirmou Centeno.
“Acredito que a prestação de contas e a transparência são essenciais ao funcionamento das instituições, mas levo para este novo ciclo a resiliência na ação, acompanhada pelo diálogo”, afirmou ainda.
Centeno diz assumir “mesmo com enorme honra” o cargo ali, naquele salão nobre “testemunho vivo da importância que, para a República Portuguesa, tem a cooperação e a independência das suas instituições”.
“Pela história deste salão passam o Ministério das Finanças, o Tribunal de Contas, o Banco de Portugal, os restantes supervisores financeiros e tantas instituições que têm o dever de assegurar o prestígio institucional da República Portuguesa. O papel de cada uma delas não se desenvolve nas estritas competências que lhe são cometidas de forma hermética, mas numa cooperação institucional sã que preservando a identidade de cada uma, faça do todo mais do que a soma das partes”, defendeu.
Mário Centeno promete, por isso, um mandato de “portas abertas” – porque “foi isso que aprendi em Harvard”. E porque “não acredita em estratégias de dividir para reinar”.
“Aprendi, em todas as fases da minha vida, que uma boa preparação é a mãe de todas as conquistas; que devemos ao nosso trabalho e aos nossos colaboradores o que fazemos melhor”, sustentou ainda.
“Assim será comigo como governador. É assim que sou hoje, com muita honra, o novo governador do Banco de Portugal e ao serviço de Portugal”, concluiu.
Quatro desafios para uma “instituição de referência”
É assim que pretende responder aos quatro desafios que vê pela frente para a instituição que agora comanda:
- “assegurar uma supervisão eficiente e exigente, proactiva
- participar e influenciar a política monetária europeia
- definir uma política macro que assegure a estabilidade do sistema financeiro
- credibilizar as estratégias e os mecanismos e o processo de estabilização bancária”.
Lembrando que o Banco de Portugal “é fulcral” tanto “quando consegue cumprir os objetivos – o que nem sempre é percebido pela sociedade civil” – como “quando falha”, o novo governador classifica a instituição como “de referência”.
“É com orgulho, responsabilidade e sentido de compromisso que hoje aqui estou, no magnífico salão nobre, íntegro e de forma assumida, a iniciar um novo ciclo numa instituição centenária que todos respeitamos”, afirmou.
“A minha relação com o Banco de Portugal vem desde o já longínquo ano de 1993, pela mão de quem é uma referência para todos os que estudam economia e finanças, o professor António Sampaio Melo”, lembrou o ex-ministro das Finanças.
"Doutorei-me pela Universidade de Harvard, assumindo o compromisso de voltar e voltei ao Banco de Portugal em 2000. Neste trajeto, foi muito o que aprendi acerca da sua dimensão, da sua capacidade ímpar de formar, de dar a Portugal muitos dos seus mais altos-quadros, a sua importância na supervisão, no apoio indispensável à regulação do sistema bancário, mas também na análise económica e no desenvolvimento das ciências económicas no nosso país”, destacou ainda Mário Centeno.