A inspetora-geral da Administração Interna, Anabela Cabral Ferreira, afirmou esta sexta-feira para o número de mortes por suicídio entre polícias é superior aos óbitos registados no cumprimento do serviço, enfatizando a importância de uma maior atenção à saúde mental.
No discurso proferido na conferência ‘Controlo de conflitos e a desescalada no âmbito de intervenção da Polícia’, em Lisboa, a responsável da Inspeção-Geral da Administração Interna (IGAI) lembrou que os agentes “são por vezes confrontados com faltas de respeito e alvo de provocações”. Por isso, reiterou a necessidade de preparar os elementos das forças policiais para esta realidade “sem comprometerem o seu bem-estar e a sua saúde mental”.
“Os polícias são obrigados a fazer sacrifícios que têm impacto na vida familiar, nas horas de descanso e, por vezes, na própria vida. Deve fazer-nos refletir que em Portugal, como noutros países, mais polícias morrem por suicídio do que em serviço. Isto reflete as dificuldades do trabalho, o stresse a que estão sujeitos e até a problemas emocionais e físicos de saúde que são sintomáticos de ‘burnout’”, afirmou.
Perante o ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, o secretário-geral de Segurança Interna, Paulo Vizeu Pinheiro, e o diretor nacional da Polícia Judiciária, Luís Neves, a inspetora-geral salientou a dificuldade do exercício da atividade policial. Anabela Cabral Ferreira destacou ainda que a segurança do país depende de uma consciência clara do dever por parte dos polícias, mas também do respeito da comunidade em relação aos agentes.
“Os polícias merecem e precisam de mais. Precisam de saber técnicas e ter ferramentas para serem capazes de introduzir a desescalada de conflitos e merecem que tomemos atenção à sua saúde mental. Temos a responsabilidade de estudar, gerir melhor e resolver esta situação. Devemos isso àqueles que garantem o nosso modo de vida”, explicou.
Por sua vez, José Luís Carneiro indicou a importância de promover a avaliação de situações de escalada de conflitos nas forças policiais, ao notar que o uso da força por meios legais é um dos pilares do Estado de Direito entre as sociedades democráticas contemporâneas.
“A utilização dos meios legítimos de aplicação da lei por agentes policiais, neutralizando ou minimizando uma ameaça, em situações de escalada de conflito, com diferentes graus de violência, requer uma avaliação racional e operacional do problema”, observou.
O governante fez questão de notar a “complexidade dos parâmetros a estabelecer para evitar a escalada do conflito” e sublinhou também a relevância da IGAI neste contexto.
“A IGAI desempenha um papel importante como instituição responsável pela supervisão de um vasto leque de iniciativas no âmbito de atividades de capacitação, formação e inspeção, bem como na promoção de contactos regulares com as nossas autoridades, que visam sensibilizar e aumentar todas as respostas técnicas e operacionais possíveis que possam revelar-se adequadas e que possam impedir o uso da força”, disse.