Os dados de novembro aproximam-se já do objetivo dos Bancos Centrais, de garantir uma inflação de 2% no médio prazo. Segundo o Eurostat, a inflação anual na zona euro deve descer cinco décimas no penúltimo mês no ano, para 2,4%. Em Portugal, o Instituto Nacional de Estatística aponta mesmo para 1,6% (uma descida de 0,5 pontos). Também esta quinta-feira, ficou a saber-se que nos Estados Unidos a inflação a 12 meses caiu para 3% em outubro.
Mas serão estas descidas suficientes? A meta fixada pelos bancos centrais para a inflação é muito mais do que um número, representa a estabilidade de preços, ou uma forma de “evitar períodos prolongados de inflação demasiado alta ou demasiado baixa”, segundo o Banco de Portugal.
“O BCE considera que 2% lhe dá margem de segurança contra a deflação e flexibilidade suficiente para reduzir as taxas de juro em situações adversas."
Assim como o BCE não limita as decisões de política monetária às “flutuações de curto prazo”, também não é de esperar que outros bancos centrais o façam, mesmo com os preços abaixo da meta fixada pela autoridade monetária.
É esse o alerta deixado pelo economista Stephen D. King, um dos poucos que antecipou a atual crise inflacionista e que no início do ano lançou “Temos de Falar Sobre Inflação”, editado em novembro em Portugal, pela Ideias de Ler.
O autor, consultor do HSBC e do Comité do Tesouro da Câmara dos Comuns no Reino Unido, reúne neste livro 2000 anos de história da inflação. São episódios que marcaram países e alteraram a forma como hoje vivemos, desde os mais conhecidos, como a hiperinflação na Alemanha, no final da Primeira Guerra Mundial, até às guerras monetárias em meados do século XX na China.
Esta é uma parte importante da história económica da humanidade, onde King aponta as lições a retirar e onde já falhámos. Um exemplo clássico são os choques no preço do petróleo, em 1973 e 1980, onde os bancos centrais parece não terem aprendido nada.
Na atual crise inflacionista, a resposta passou por um aumento vigoroso das taxas de juro, que não deverão descer ao mesmo ritmo nem regressar ao mesmo nível.
Questionado esta semana pelo Financial Times, Stephen D. King assegura sem hesitações que este tema continua atual, nem a inflação regressou aos níveis anteriores nem há certezas sobre a constância da atual descida.
No livro, o economista deixa quatro testes para avaliar a persistência da inflação: se há alterações institucionais que favorecem a inflação; se há sinais de excesso de massa monetária, que apontam para risco inflacionista; se os riscos inflacionistas estão a ser minimizados; as cadeias de abastecimento deterioraram-se?
A resposta a estas quatro perguntas poderá guiar-nos também neste momento, para avaliar até que ponto esta descida dos preços é temporária ou poderá sustentar o início da descida das taxas de juro.