Na sequência de uma vaga de manifestações populares, a China parece ter entrado num processo de flexibilizar a sua fórmula de luta contra a pandemia de Covid 19. A convivência com o vírus, durante três anos uma espécie de anátema para Pequim, ter-se-á tornado inevitável.
Esta semana sucedem-se os gestos políticos inéditos. Os confinamentos foram aliviados em várias cidades, mesmo com altos graus de contágio, como no caso de Guangzhou, a grande metrópole do sul. Também em Shanghai foram levantados os confinamentos, apesar do rótulo de alto risco. Ainda mais simbólica é a situação em Pequim. Na quinta-feira, a capital superou os 5 mil contágios, uma enormidade para padrões chineses, mas não verá o confinamento de bairros inteiros.
Tão importantes como as medidas são os discursos oficiais com origem em Pequim. A vice-presidente Sun Chunlan veio dizer que sendo o vírus menos patogénico, a crescente taxa de vacinação faz com que a contenção da pandemia entre numa nova fase. Sun Chunlan aludiu a ‘medidas mais humanas’ e deixou de usar a expressão ‘linha dinâmica zero’ na ação anti-Covid.
Talvez por ter tentado de tudo sem sucesso, talvez por a missão estar a cargo dos governos regionais – à mercê do excesso de zelo de quadros locais – talvez porque as novas variantes do vírus são menos graves, ou até pela vaga de protestos, a China entrou estes dias num novo cenário de coexistência com a Covid 19.
Mas que protestos foram estes, os mais graves desde 1989 a afetar, pelo menos, 24 grandes cidades e que consequências terão para o regime do PCC? As manifestações precipitadas pela morte de 10 pessoas no decurso de um incêndio na região de Xingiang a envolver o edifício onde se encontravam confinadas devido às apertadas medidas contra a Covid.
A análise é de Jorge Tavares da Silva, cientista político da área de resolução de conflitos internacionais e professor de Estudos Chineses na Universidade de Aveiro, Nuno Botelho dirigente da ACP – Câmara de Comércio e Indústria, e do jornalista José Alberto Lemos a olharem também para a Ucrânia, para mais uma remodelação governamental e para os políticos e o Mundial do Qatar.