Escola está a falhar aos alunos com dislexia? Associação quer formação para professores
01-03-2024 - 21:53
 • Fátima Casanova

Mais de 120 mil alunos têm dislexia em Portugal. Em declarações à Renascença, a fundadora da Associação Portuguesa de Dislexia defende uma ação precoce para lidar com esta disfunção neurológica que dificulta a aprendizagem.

A escola não está a dar resposta aos alunos com dislexia, alerta a associação que apoia estas pessoas que sofrem de disfunção neurológica que se manifesta ao nível da dificuldade na leitura e da escrita.

Em declarações à Renascença, a fundadora da Associação Portuguesa de Dislexia considera que estes alunos, cerca de 120 mil, só têm a ganhar com um diagnóstico precoce e, por isso, defende formação para os professores do 1.º Ciclo.

Helena Serra já tem um dossier preparado com essa proposta para entregar ao novo Governo que sair das eleições de 10 de março.

Nós temos os documentos preparados para entregar ao Sr. ministro ou ao Sr. secretário de Estado. Apenas é preciso vontade política para explicar, através de uma ação de formação que é o próprio Ministério que dá e custeia. É o próprio Ministério que tem de tornar obrigatória e durante ‘X anos’ convida todos os professores do 1.º ciclo a fazê-la, porque é aí que se pode intervir de forma precoce”, afirma.

O Porto acolhe o VIII Congresso Internacional de Dislexia, este sábado. Na Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti podem ser ouvidos testemunhos e especialistas. Uma iniciativa que tem como objetivo alertar para esta disfunção que afeta, pelo menos, 10% dos alunos.

Os problemas de aprendizagem da leitura e da escrita têm vindo a aumentar nas escolas, mas não é possível relacionar com uma subida do número de casos de dislexia, diz Helena Serra.

“Aplicando os 10% às estatísticas que o Ministério tem publicadas, eles serão mais de 120 mil que estão nas salas de aula. As dificuldades na leitura e na escrita têm estado a aumentar de uma forma galopante. Agora não se pode concluir assim de imediato [que os casos de dislexia estão a subir]]. Estamos aqui com o aumento percentual do cérebro disléxicos, não é assim. O que sabemos é que tem subido extraordinariamente tudo o que são problemas com o ato de ler e de escrever.”

Em entrevista à Renascença, a fundadora da Associação Portuguesa de Dislexia chama a atenção para os problemas que estes alunos enfrentam na escola.

“As crianças têm uma boa prestação na relação com os outros e são inteligentes e criativas. De facto, nas escolas há aqui como que um mito em torno deste problema, as escolas acham que está desatento, ele é apenas desorganizado, ele é apenas preguiçoso. Este é o primeiro problema”, diagnostica.

“O segundo problema é quando eles crescem, disfarçam ou estão inseguros. O professor faz uma pergunta para o grupo e o aluno, na sua insegurança, e tem ali uma ideia, mas está sempre inseguro: ‘digo não digo, se calhar é, se calhar não é. Olhe, não tenho a certeza’ e podem saber, mas não arriscam. Ou então quando arriscam, as experiências são tão negativas, com risada geral na turma e, portanto, passam a fechar.”

Mas os problemas não ficam por aqui. Tirar a carta de condução, por exemplo, tem sido outra batalha. A Associação Portuguesa de Dislexia defende também exames de código orais para estas pessoas.

Helena Serra diz que muitas pessoas já tentaram fazer o exame sem sucesso e não é por desconhecerem os sinais.

“Vai estar no congresso uma jovem que foi 10 vezes ao exame de código, portanto, este é um drama. O IMT, o Instituto de Mobilidade e Transportes, já colaborou connosco noutros congressos e já colocou mais 15 minutos no exame de código para estes sujeitos, mas aqueles 15 minutos não são suficientes, alguns não sabem ler mesmo, são inteligentes e não sabem ler”, explica.

“Têm dificuldade, portanto, para fazer o raciocínio relativamente aos sinais e fazer corresponder com as opções dadas e conhecem os sinais todos e sabem para que é que aquilo e mais, se calhar já conduzem há anos. E agora estamos a tornar a voltar com o assunto, porque é preciso colocar exames orais”, defende Helena Serra.