“Contra a guerra. A coragem de construir a paz”. É o título do livro que vai ser publicado na quinta-feira, em que o Papa Francisco aborda o diálogo como arte política, a construção artesanal da paz e o desarmamento como escolha estratégica.
Francisco escreve, na introdução do livro, que “diante das imagens angustiantes que vemos todos os dias, diante do choro de crianças e mulheres, só podemos gritar: ‘parem!’”.
“A guerra não é a solução, a guerra é uma loucura, a guerra é um monstro, a guerra é um cancro que se autoalimenta, engolindo tudo! Além disso, a guerra é um sacrilégio, que destrói o que há de mais precioso na nossa terra, a vida humana, a inocência dos pequenos, a beleza da criação”.
No livro, o Papa recorda a sua deslocação ao Iraque onde pôde tocar “o desastre causado pela guerra, violência fratricida e terrorismo”.
“Vi os escombros das casas e das feridas dos corações, mas também sementes de esperança para o renascimento. Nunca imaginei, então, que veria um conflito eclodir na Europa um ano depois”, diz Francisco.
Francisco lembra que desde o início do seu ministério tem falado da Terceira Guerra Mundial, destacando que já a estamos a viver “embora ainda em pedaços”.
“Tantas guerras estão acontecendo neste momento do mundo, causando imensa dor, vítimas inocentes, especialmente crianças. Guerras que provocam a fuga de milhões de pessoas, forçadas a deixar as suas terras, as suas casas, as suas cidades destruídas por salvar suas vidas. Estas são as muitas guerras esquecidas, que de tempos em tempos reaparecem diante de nossos olhos desatentos”, sinaliza.
“A Ucrânia foi atacada e invadida. E no conflito, infelizmente, estão a ser atingidos muitos civis inocentes, muitas mulheres, muitas crianças, muitas idosos, forçados a viver em abrigos cavados na terra para escapar das bombas, com famílias que estão divididas porque maridos, pais, avós continuam a lutar".
Segundo o Santo Padre, o que estamos a testemunhar “é mais uma barbárie”, lamentando a memória curta que esquece guerras passadas e as suas consequências.
“Se tivéssemos memória, saberíamos que a guerra, antes de começar, deve ser parada nos corações. O ódio, antes que seja tarde demais, deve ser erradicado dos corações. E para isso precisamos de diálogo, negociação, escuta, habilidades diplomáticas e criatividade, uma política capaz de construir um novo sistema de convivência que não seja mais baseado em armas, no poder das armas, na dissuasão”, afirma.
Francisco alerta que “passo a passo, estamos a caminhar para uma catástrofe. Bocado a bocado, o mundo corre o risco de se tornar o teatro de uma única Terceira Guerra Mundial”.
“Não, a guerra não é inevitável! Quando nos permitimos ser devorados por este monstro representado pela guerra, quando permitimos que este monstro levante a cabeça e guie as nossas ações, todos nós perdemos, destruímos as criaturas de Deus, cometemos sacrilégio e preparamos um futuro de morte para nossos filhos e netos”, realça.
O Papa refere que “diante das imagens da morte que chegam da Ucrânia, é difícil esperar”, mas lembra que “há sinais de esperança”.
“Há milhões de pessoas que não aspiram à guerra, mas que pedem a paz. Há milhões de jovens que nos pedem para fazer tudo, o possível e o impossível, para parar a guerra, para parar as guerras”.
Reportando-se à Encíclica Fratelli Tutti, na qual propôs que o dinheiro gasto em armas e outras despesas militares fosse destinado a criar um Fundo Mundial, para eliminar a fome e promover o desenvolvimento dos países mais pobres, Francisco renova de novo a proposta.
“Renovo esta proposta também hoje, especialmente hoje. Porque a guerra deve ser parada, porque as guerras devem ser paradas e só pararão se deixarmos de as alimentar”, conclui.
O livro ‘Contra a guerra. A coragem de construir a paz’ que chega às livrarias italianas na quinta-feira e como suplemento da próxima edição do jornal ‘Corriere della Sera’, é apresentado na sexta-feira, 29 de abril, às 10h30, em Roma, na Universidade Lumsa.