Uma figura nem sempre avessa à polémica, o príncipe Filipe da Grécia e da Dinamarca, auto intitulou-se um dia o revelador de placas de inauguração mais experiente do mundo.
Nasceu em 1921, mas cedo teve de abandonar a Grécia - tinha apenas 18 meses quando a sua família foi expulsa do país depois de um golpe de Estado.
Na infância não pôde chamar casa a nenhum sítio em particular, tendo vivido em França, Escócia e Alemanha. Em 1939 juntou-se à Marinha Britânica, com 18 anos, e pouco depois conheceu uma parente distante: uma adolescente de 13 anos chamada Isabel, que aí mesmo terá ficado apaixonada.
Combateu na II Guerra Mundial ao serviço do exército britânico enquanto três das suas irmãs, casadas com alemães, apoiavam a causa nazi.
Depois da guerra, em 1947, casou-se com a herdeira ao trono inglês, naquele que foi o primeiro casamento real transmitido na televisão para todo o mundo, a partir da BBC.
Teriam mais tarde quatro filhos, incluindo Carlos - o atual herdeiro ao trono. Antes disso abdicou dos seus títulos reais e naturalizou-se cidadão britânico.
Recebeu o título de Duque de Edimburgo e quando a Rainha subiu ao trono, em 1952, abdicou das suas funções na Marinha e passou a participar como príncipe consorte em deveres reais, como inaugurações ou viagens ao estrangeiro, funcionando quase como um diplomata empenhado em modernizar a monarquia.
No cumprimento desses mesmo deveres, que o levaram a ser patrono ou membro de 780 organizações, nunca se coibiu de dizer o que pensava num misto de sentido de humor e gaffes que marcaram a sua vida.
Foi também esse seu estilo politicamente incorreto, no centro de uma instituição profundamente conservadora que fez com que fosse um alvo predileto da imprensa britânica.
Ficaram famosas algumas das suas expressões, como quando, em 1969, no Canadá disse: “declaro inaugurada esta coisa, o quer que seja”, quando sugeriu que as vestes do Presidente da Nigéria se assemelhavam a um pijama ou quando alertou cidadãos britânicos a residir na China que se lá ficassem mais tempo poderiam acabar “de olhos em bico”.
Não obstante, o serviço público que prestou revela o seu compromisso e perseverança: durante muito tempo foi o membro mais ativo da família real, tendo atendido a mais de 22 mil compromissos reais sozinho e mais de seis mil discursos.
Deu particular atenção ao desporto, à ciência e ao ambiente, tendo-se tornado, em 1961, o primeiro presidente do World Wildlife Fund. Uma figura modesta, raramente aceitou crédito pelos seus feitos. Ao seu biógrafo resumiu o seu trabalho a garantir que a Rainha conseguia reinar.
Quando fez 90 anos disse estar perto de se retirar, por achar que seria melhor sair antes que “o prazo de validade expirasse”. Mas foi só perto dos 96, em maio de 2017, que anunciou que se afastaria dos deveres reais e da vida pública em outubro desse ano. Foi o príncipe consorte que serviu por mais tempo na história da monarquia inglesa.
A Rainha Isabel II descreveu-o um dia como a sua força e o seu maior apoio.
Desde 2017, teve vários problemas de saúde, tendo estado internado cerca de um mês já este ano devido a uma infeção. Morreu esta sexta-feira, tranquilamente, aos 99 anos.
A Rainha tem agora um período de luto de oito dias. Durante esse período quaisquer documentos que precisem de selo real ficam à espera. Isabel II voltará depois ao trabalho, mas à porta fechada e por um período de 30 dias a família real não aparecerá em deveres públicos.
O funeral pode levar mais de uma semana a preparar, apesar de se acreditar que o próprio príncipe esteve envolvido no planeamento da cerimónia. É provável que seja sepultado num terreno privado no Castelo de Windsor, onde foram também enterrados a Rainha Victoria e o Príncipe Alberto.