No dia em que se assinalam 47 anos da libertação dos presos políticos de Peniche, o Museu Nacional Resistência e Liberdade abre ao público aquela que é a primeira exposição de caráter internacional naquele museu. “Candelabro ASM – Aristides de Sousa Mendes: O Exílio pela Vida” é uma mostra que tem no centro um vídeo-escultura de grandes dimensões.
Criada pelo artista alemão Werner Klotz, a escultura de quatro metros de altura em aço inoxidável integra 13 pequenos vídeos e conta com uma instalação sonora original criada pela compositora alemã Almut Kühne. Em torno deste “Candelabro” nasce uma exposição que conta a história de Aristides de Sousa Mendes e daquele período da História de Portugal.
Esta homenagem ao cônsul português de Bordéus reveste-se de grande simbolismo para um dos seus netos. Em entrevista à Renascença, Gerald de Sousa Mendes afirma ser “muito comovente para a família, porque é a primeira exposição e a primeira vez que este ‘Candelabro’ é mostrado”.
Para o responsável da Fundação Aristides de Sousa Mendes, e um dos promotores da mostra, ter esta exposição em Peniche, no Museu Resistência e Liberdade é emblemático. Nas palavras deste familiar, “Aristides era ele próprio, um resistente que combateu pela liberdade”. Por isso, conclui Gerald de Sousa Mendes, “é muito simpático” e a família está orgulhosa e feliz com esta homenagem.
Mas a exposição tem por trás uma história de ligação direta à família. O artista que criou a escultura era amigo de Sebastian Mendes, outro neto de Aristides de Sousa Mendes que morreu tragicamente de AVC depois de um passeio de bicicleta. Werner Klotz quis assim concretizar um trabalho que Sebastian tinha em mente fazer.
À Renascença, o artista que nasceu e viveu a infância na Alemanha recorda o que Sebastian Mendes lhe contava. Trata-se de uma memória que Sebastian tinha dos seus 6, 7 anos. Quando o seu pai, também de nome Sebastian recebia em casa sobreviventes dos campos nazis, ele Sebastian por vezes fingia que dormia, e ouvia algumas conversas dos adultos
“O que ficou na sua cabeça foi a resposta de um homem ao seu pai que lhe perguntou como sobreviveu sem comida e roupas adequadas, algures na Polónia ao fugir de um campo de concentração? Este homem disse que não tinha fome ou frio, porque imaginou que estava num grande banquete e que as estrelas do céu eram candelabros. Isso ficou na cabeça do Sebastian Mendes e ele contou-me isso e ficou na minha”, relata Werner Klotz
Esta ideia de “candelabros” suscitou a escultura que criou para ser mostrada em Peniche. Uma escultura que brilha como as estrelas e onde estão incorporados vídeos que tentam avivar a memória daquele período negro da História europeia.
A escultura integra também o trabalho musical da compositora alemã Almut Kühne. Sentada em frente à escultura, a artista diz à Renascença que para o trabalho, usou “fragmento de música clássica” e foi procurar as histórias dos milhares de pessoas que Aristides de Sousa Mendes salvou.
“Pensei nas pessoas nas filas à espera de um visto, e pensei que elas pensariam”, diz Almut que pediu a amigos em diversas partes do mundo para gravarem frases começadas pela expressão “Se eu pudesse”, imaginando os desejos dos que queriam um carimbo para se salvaram do terror nazi. Essas frases são integradas na instalação sonora.
Almut Kühne que nada sabia antes deste trabalho sobre a história deste diplomata português conta que ficou “muito impressionada com o que ele fez”. “Sei que muita gente ajudou outras pessoas naquela altura, mas fazer o que ele fez acho que é algo que nenhum de nós faria. Agora neste tempo de corona vírus, vemos como lidamos com as coisas e ele pensou no mundo inteiro e fez os sacrifícios. Foi muito especial”, refere a artista.
“Candelabro ASM - Aristides de Sousa Mendes: o Exílio pela Vida”, marca a primeira exposição de carater internacional organizada pelo Museu de Peniche. Aida Rechena, a diretora do museu explica à Renascença que a mostra foi toda pensada e desenvolvida durante o último ano pandémico, com interlocutores em diversas partes do mundo. Agora a exposição vai ser visitável até ao final de outubro, diz a diretora “de quarta a sexta-feira das 14h ás 18h e aos sábado e domingos das 10h00 às 13h00” .