Para que os mexicanos, melhor conheçam o que de mais recente se tem escrito em português, durante a Feira do Livro de Guadalajara que termina no domingo no México, foi lançada uma antologia de contos contemporâneos portugueses.
Ao todo 10 escritores portugueses participam neste livro que tem como título uma epigrafe que o poeta mexicano Octávio Paz usou para falar de Fernando Pessoa. O livro editado em conjunto pela Penguin Random House de Portugal e do México reúne contos dos escritores Afonso Cruz, Bruno Vieira Amaral, Djaimilia Pereira de Almeida, Dulce Maria Cardoso, José Luís Peixoto, Lídia Jorge, Gonçalo M. Tavares, Valério Romão, João Tordo e Alexandra Lucas Coelho.
Em entrevista à Renascença, Clara Capitão, diretora editorial da Penguin Random House, que coordenou e publica esta antologia, explica que “Quis encontrar autores com vozes distintas, com experiências de vida diferentes e também em momentos de vida diferentes na sua carreira literária”.
Na sessão da Feira Internacional do Livro de Guadalajara em que foram feitas leituras públicas de alguns dos contos, Lídia Jorge, uma das autoras presentes na antologia revelou o lugar que os contos ocupam na sua literatura. Nas palavras da autora de “Os Memoráveis”, “os contos são uma espécie de autobiografia”.
Lídia Jorge afirma: “Posso reconstruir a minha vida e as minhas viagens através dos contos, porque provêm de experiências diretas, ao contrário dos romances que são grandes e trabalhosos. Os contos nascem do quotidiano.”
Outro dos autores incluídos é João Tordo que explicou à Renascença que o conto que escolheu para esta antologia, foi o que deu origem ao seu último livro “Ensina-me a Voar sobre os Telhados”. Trata-se de um conto que lhe foi encomendado por uma imobiliária para vender uma casa e que mais tarde o autor premiado com o José Saramago, acabou por transformar em romance. Também Afonso Cruz recuperou um texto que já tinha publicado na Revista Granta e que agora foi traduzido para espanhol.
A antologia chama-se “Um certo desassossego” por causa do poeta mexicano Octávio Paz. A editora Clara Capitão diz à Renascença que se trata de uma “epígrafe que está no primeiro texto que Octávio Paz escreveu sobre Fernando Pessoa. O Octávio Paz foi um grande divulgador da obra de Fernando Pessoa no mundo de expressão Ibérica e nessa epigrafe, cuja a origem é desconhecida, fala deste certo desassossego”. Nas palavras de Clara Capitão a questão do desassossego era “muito própria da identidade portuguesa” e por isso “era um bom mote para lançar aos autores como tema para a antologia”.