As organizações não governamentais presentes em Madrid falam já num cenário de “desastre total” na cimeira COP 25, sobre o clima.
Com as negociações já a decorrer para lá do prazo final inicialmente previsto para a cimeira, as perspetivas de um acordo tornam-se cada vez mais distantes e as poucas conclusões que vão surgindo são consideradas “inaceitáveis” pelos ambientalistas.
Jennifer Morgan, da histórica organização Greenpeace, diz que “A Presidência Chilena mostra com estes textos que está sobretudo a escutar os poluidores e não o povo. A Presidência chilena da COP devia estar a defender-nos a todos, mas em vez disso faz a defesa do Japão, o Brasil e Estados Unidos.”
Jennifer Morgan acusou Brasil, Estados Unidos e Arábia Saudita de "cozinharem um acordo para traficarem [licenças de emissões de] carbono", permitindo-se que os créditos anteriores sejam mantidos num novo sistema de regulação que venha a surgir.
"A presidência chilena tinha uma única tarefa: proteger a integridade do Acordo de Paris e não deixar que fosse destruído pelo cinismo e pela ganância. Neste momento, falhou, ouviu os poluidores em vez de ouvir as pessoas", considerou.
A cimeira estava inicialmente prevista para o Chile, mas a instabilidade social naquele país levou a que fosse mudada para Madrid, com as autoridades chilenas a manterem, contudo, a presidência dos trabalhos.
Mohammed Adow, da organização “Power Shift Africa”, não hesita em apelidar os textos de “desastrosos”.
“São os piores que já vi nos 10 anos desde que sigo este processo. Numa altura em que os cientistas deixam alertas, em que as pessoas e as crianças marcham aos milhares nas ruas a pedir ação climática, o texto proposto pela presidência chilena é uma traição às pessoas de todo o mundo”.
“O que estão a fazer é destruir uma parte substancial do Acordo de Paris e limitaram-se a fazer copy/paste da melhor parte do acordo fechado há quatro anos”, queixa-se ainda Adow, que diz que “as contribuições que temos poem o planeta no trilho de um aumento de temperatura de 3,2 graus centigrados”.
Também o dirigente da organização científica Union of Concerned Scientists, Alden Meyer, disse aos jornalistas que seria "injusto e imoral" aprovar as resoluções tal como estão, apontando que "não há qualquer apelo aos países para aumentarem a ambição dos seus compromissos".
"Nunca vi tanto desligamento entre o que a ciência pede e as pessoas do mundo exigem e o que os negociadores estão aqui a propor", disse Alden Meyer, considerando que "falhar é inaceitável".
Em Madrid prossegue a maratona negocial, que já devia ter acabado na noite de sexta-feira.
[Notícia atualizada às 11h58]