“Hoje é um dia de alegria imensa para nós”. Célia Sousa, coordenadora do Centro de Recursos para a Inclusão Digital da Escola Superior de Educação e Ciências Sociais (ESECS) do Instituto Politécnico de Leiria, não escondeu a satisfação pelas ‘Meditações do Terço em Comunicação para Todos’. A obra foi apresentada esta segunda-feira, numa parceria com a Fundação Jornada Mundial da Juventude (JMJ) e o Corpo Nacional de Escutas (CNE).
O projeto - que inclui também a Oração da Jornada Mundial da Juventude em braille e pictogramas - foi desenvolvido na sequência do trabalho que o Centro da ESECS, que lidera, já tinha realizado no Santuário de Fátima, em 2017, pelos 100 anos aparições.
“O Papa Francisco agradeceu muito, e foi isso que nos deu alento”, explicou aquela responsável, adiantando que a obra não diferencia “se é para pessoas cegas ou surdas, ou com incapacidade intelectual. É para todos. Queremos estar todos juntos e comunicar para todos ao mesmo tempo, usando apenas um texto”.
“Usamos o código pictográfico, que é um sistema de comunicação, são símbolos que são trabalhados para transmitir o conceito das palavras que estão escritas. Aqui o grande desafio foi que não podíamos mudar o texto (das meditações), e seguir as regras da escrita fácil, e muitas palavras são complicadas”, adiantou.
As meditações do terço estão em diferentes formatos de comunicação. “Estão em braille, em linguagem pictográfica, têm depois os respetivos códigos QR para língua gestual portuguesa e para o áudio. Através dos pictogramas tentámos adaptar toda a mensagem para que ela possa chegar a pessoas que não conseguem ler, que têm alguma incapacidade intelectual, dislexia, ou que não dominam a língua portuguesa, e têm ali um modo de conseguir aceder à mensagem que se pretende passar”.
Sublinhando que “isto nunca foi feito a nível mundial”, embora já se trabalhe na “comunicação multi formato para muitas áreas”, Célia Sousa revelou que o projeto demorou um ano a concluir.
“Adaptar os pictogramas ao texto é muito demorado, porque os pictogramas representam conceitos. É preciso numa primeira fase fazer essa adaptação, depois validar, e posteriormente é preciso que as pessoas com incapacidade intelectual testem, para saber se é possível e se entenderam, de facto, aquilo que pretendíamos. Por isso, a realização deste livro foi um trabalho de aproximadamente 12 meses”.
Carmo Diniz, responsável pelo Gabinete de Diálogo e Inclusão da JMJ – e recém-nomeada diretora nacional do Serviço Pastoral a Pessoas com Deficiência - sublinha a importância desta nova ferramenta que “permite todos poderem rezar em conjunto”, e servirá de suporte para quem necessite, mesmo depois da Jornada.
“Não há meditações de terço em português neste formato de comunicação para todos. Fica um legado para quem quiser rezar o terço: daqui para a frente, em preparação, durante a semana da Jornada e depois disso, pode sempre rezar o terço com recurso a esta ferramenta”.
O livro hoje apresentado também vai ter formato digital, e a marca já foi registada. “É um produto feito na JMJ Lisboa 2023”, e que ficará como modelo para próximas jornadas.
“Foi um esforço de todo o COL (Comité Organizador Local) fazer esta publicação, e queremos que seja um sinal: pode não chegar a casa de cada um, mas queremos que chegue a todos os que precisem dela”.
D. Américo Aguiar, presidente da Fundação JMJ, congratulou-se com a obra hoje apresentada, que disse ser um passo mais no “caminho da inclusão que está a ser trilhado na Igreja”, para eliminar, por exemplo, os muitos obstáculos físicos que ainda existem.
“Lembro-me da Torre dos Clérigos, quando se permitiu que irmãos nossos subissem ao 4º andar, foi a conquista da lua, quase! E também em Almada, no Cristo Rei, o trabalho que está a ser feito para permitir o acesso de quem tem limitações. Ou seja, em cada dia e em cada lugar, muito perto de nós, há desafios permanentes que queremos provocar para que sejam resolúveis e cada um seja respeitado e feliz no acolhimento que cada comunidade lhe proporciona”, referiu aos jornalistas.
O bispo auxiliar de Lisboa não tem dúvidas de que obra hoje apresentada irá ser uma grande ajuda, e espera que a JMJ também deixe um legado ao nível da sensibilização para a inclusão e o acolhimento. “Que a experiência seja positiva para todos, e que no regresso às suas vidas todos tenham convertido o coração para aquilo que é encontrar um irmão ou uma irmã que por alguma razão nos parece diferente, mas não é um problema nem um obstáculo, mas uma oportunidade e uma riqueza. Isso também é a Jornada a acontecer naquilo que é uma pedagogia para o acolhimento daquele que nos parece diferente”, afirmou.
Hoje, simbolicamente as ‘Meditações do Terço em Comunicação para Todos’, já foram entregues aos representantes dos Comités Organizadores Diocesanos (COD) do Porto, Lisboa, Vila Real, Portalegre-Castelo Branco, Évora, Beja, Leiria Fátima e Setúbal, e ao Movimento Fé e Luz, Irmãos de São João de Deus, Irmãs Hospitaleiras, ‘Humanitas’ (Federação Portuguesa para a Deficiência Mental) e Corpo Nacional de Escutas (CNE).