A Grécia realiza este domingo as segundas eleições gerais no espaço de um mês, marcadas pela questão das migrações após o recente naufrágio no mar Jónico, mas também pelo desemprego e pelo défice comercial.
O naufrágio foi um dos mais trágicos desastres migratórios no Mediterrâneo, com apenas uma centena de sobreviventes encontrados após o naufrágio de um barco em que seguiriam cerca de 750 pessoas, e gerou um clima de alta tensão entre os dois principais candidatos às eleições legislativas: o conservador Kyriakos Mitsotakis e o progressista Alexis Tsipras.
Tsipras - ex-chefe de Governo e líder do partido de oposição Syriza – não escondeu as suas dúvidas quanto à versão da Guarda Costeira sobre o naufrágio e criticou duramente a política migratória de Mitsotakis, acusando-o de não tratar o resgate das vítimas como uma "prioridade absoluta".
Durante um comício, Mitsotakis - que tenta a reeleição, depois de liderar o Governo grego durante quatro anos - considerou "muito injusto" que Tsipras e o Syriza assumam que os guardas costeiros "não fizeram devidamente o seu trabalho".
“São pessoas que estão a lutar contra as ondas para salvar vidas e proteger as nossas fronteiras”, disse o líder conservador, que defendeu a sua política migratória, classificando-a como “rígida, mas justa”, argumentando que o seu Governo conseguiu reduzir significativamente os fluxos migratórios para a Grécia.
Segundo as mais recentes sondagens, o partido da Nova Democracia (ND) de Mitsotakis deverá obter 41% dos votos, ficando mais de 20 pontos à frente do Syriza, que deverá ficar pelos 20%.
As percentagens de intenção de voto são quase idênticas às obtidas pelos partidos nas eleições legislativas de 21 de maio, embora desta vez o líder conservador apenas precise de 39% para obter a maioria absoluta no Parlamento de 300 lugares.
Isto acontece graças ao bónus de até 50 lugares para o partido vencedor, que tinha sido eliminado nas últimas eleições, o que acabou por fazer fracassar todas as tentativas de formar Governo.
A campanha eleitoral foi essencialmente dominada pelas questões relacionadas com as migrações, o desemprego, que já atingiu 12%, e um défice comercial que continua a preocupar os gregos, que ainda se lembram bem dos efeitos da intervenção financeira externa após a crise de 2008.
Mitsotakis apresentou-se perante os eleitores com a promessa de finalizar as reformas aplicadas pelo seu Governo para que a economia grega continue a crescer, dizendo ser fundamental que o país se aproxime da Europa em termos de salários e padrões de vida.
Tsipras defende uma economia “que funcione para todos” e - depois da derrota do seu partido em maio, quando perdeu um terço do seu eleitorado face a 2019 – pede agora o voto para que o Syriza se mantenha um “partido de oposição forte”.
Não faltaram motivos para crítica a Tsipras, durante a campanha eleitoral, apontando a incapacidade do Governo para lidar com o défice comercial acumulado e com o aumento do desemprego, sobretudo junto dos mais jovens.