Lar de Cascais acusado de deixar cadáver junto de utentes abre inquérito interno
21-12-2020 - 15:06
 • Lusa

O lar da Santa Casa esclarece que, ao contrário do que chegou a ser noticiado, não é verdade que o cadáver tenha ficado 24 horas num quarto nem que outros doentes tenham ficado a dormir no mesmo espaço.

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O Centro de Apoio Social do Pisão, em Cascais, acusado de alegadamente deixar um cadáver mais de 24 horas ao lado de outros utentes, abriu um inquérito para averiguar os motivos da abertura do quarto onde se encontrava o corpo.

Em comunicado divulgado esta segunda-feira, o lar da Santa Casa da Misericórdia de Cascais, no distrito de Lisboa, diz não ser verdade que “um corpo de um falecido tenha permanecido mais de 24 horas num quarto” e que os doentes não dormiram no quarto com um cadáver.

Segundo uma reportagem emitida no sábado pela TVI, um corpo terá ficado mais de 24 horas numa cama, à espera de ser recolhido, ao lado de outros utentes num dormitório, segundo revelaram auxiliares.

“[…] Os demais colaboradores sabiam do acontecido e de que não poderiam deitar os outros residentes enquanto o corpo fosse retirado. Tal atuação incorreta por parte de quem permitiu a abertura do quarto permitiu a entrada de doentes indefesos mental e fisicamente para o interior daquele quarto”, escreveu a direção do lar.

De acordo com o Centro de Apoio Social do Pisão (CASP), o quarto encontrava-se fechado à chave e é desconhecido o verdadeiro motivo e o propósito para “um ou mais funcionário” o terem aberto.

“Desconhecemos o motivo pelo qual abriram o saco onde se encontrava o corpo. Desconhecemos o motivo que os levou a executar estes procedimentos. Desconhecemos o motivo pelo qual gravaram um filme e o utilizaram por forma a manipular a verdade e denegrir a imagem desta instituição”, realçou.

Com um processo de averiguações iniciado, a direção do lar teve conhecimento da existência de um filme em 15 de dezembro que, segundo a entidade, a “reportagem da TVI extrai parte”.

“A direção do CASP comunicou à provedoria da Misericórdia de Cascais que de imediato desencadeou um processo de averiguações internas para perceber as circunstâncias do ocorrido, e que se encontra atualmente a decorrer, tendo sido simultaneamente apresentada uma denuncia às entidades policiais por um dos elementos da direção por maus tratos e, eventualmente, profanação de cadáver”, salientou o Centro de Apoio Social do Pisão.

Acolhendo 340 utentes, sobretudo, do foro psiquiátrico em regime de internamento, o CASP encontra-se, de momento, com 89 pessoas infetadas com Covid-19, sendo que três perderam a vida devido a um surto na instituição, segundo a TVI.

“Após as conclusões do processo de averiguações interno, serão extraídas todas as consequências jurídicas a nível disciplinar, civil e/ou criminal”, acrescentou a entidade.

Sobre a falta de equipamentos de proteção individual, a instituição explicou que os funcionários têm equipamento adequado, desde março, para se protegerem, e receberam formação para o utilizarem de forma correta.

“Não é verdade que ‘só há pouco tempo os funcionários tenham recebido fatos de proteção’ e que tratem de doentes com Covid-19 de ‘apenas luvas e máscaras’”, afirmou o CASP, recordando que tem um plano de contingência elaborado desde o início da pandemia.

A instituição ressalvou que a reportagem exibida “faz eco de difamações, calunias e, eventualmente, divulga crimes perpetrados por alguém ou uma pequena minoria, alterando a realidade dos factos, com o sentido de denegrir esta instituição”.

“A direção do CASP e a Santa Casa da Misericórdia de Cascais irão sempre colaborar com as entidades competentes, para esclarecer os factos, em nome dos doentes, das suas famílias e em memória dos que falecerem; daí todas as medidas serão tomadas no sentido de averiguar o sucedido e de, judicialmente, apurar todas as responsabilidades”, lembrou a entidade.

A pandemia de Covid-19 provocou pelo menos 1.685.785 mortos resultantes de mais de 76,2 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

Em Portugal, morreram 6.134 pessoas dos 374.121 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.