O diretor da Cáritas de Pemba, em Moçambique, alerta para a diminuição dos recursos disponíveis para as populações vítimas do terrorismo.
Em declarações à Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), o responsável refere que atualmente a instituição só tem três projetos, notando que “não é suficiente para o número de deslocados que Cabo Delgado tem”.
A falta de recursos para socorrer todos os deslocados, cerca de um milhão, parece estar relacionada com a guerra na Ucrânia que tem desviado o olhar de outros conflitos no mundo, refletindo-se na ajuda humanitária para milhares de pessoas.
“Há dias recebi uma chamada da administradora do [campo de deslocados de] Montepuez, solicitando apoio e alimentos e infelizmente não podemos responder porque efetivamente não temos fundos”, lamenta Manuel Nota.
O diretor da Cáritas alerta que “os fundos mesmo para emergência tendem a terminar”, considerando tratar-se de “um desafio” para a instituição.
“Estamos cientes de que a população ainda vai sofrer”, sublinha
Para este responsável, face à escassez de ajuda humanitária, há o risco de poder vir a aumentar a criminalidade, em especial nos meios urbanos.
Criminalidade pode aumentar
“Prevejo que o número de assaltos poderá vir a aumentar não porque as pessoas queiram ou gostem de fazer isso. Quem não tiver nada para comer é um desafio”, alerta Manuel Nota, sublinhando que “a Cáritas não tem como ultrapassar [esta situação], porque também depende de fundos”.
Com a falta de recursos, que está a afetar profundamente também o Programa Alimentar Mundial, das Nações Unidas, a tendência na Cáritas de Pemba é para reduzir o número de projetos e, como consequência, o número de pessoas beneficiadas.
“A Cáritas reduziu consideravelmente o número de projetos que está a implementar, sobretudo os de emergência, de dois, três meses. Já não temos financiamento. Estamos a implementar projetos de emergência, sim, mas para a construção de abrigos e não de assistência alimentar”, explica Manuel Nota.
Também está a ser privilegiado o apoio para a compra de equipamentos agrícolas para que os deslocados, que tenham alguma porção de terreno à sua disposição, possam dedicar-se à agricultura. “Temos de potenciar isso. Dar sementes e instrumentos agrícolas no lugar de dar alimentos, porque o alimento come-se e desaparece”, acrescenta.
A falta de recursos para instituições como a Cáritas está a ter uma repercussão grande no número de deslocados que deixaram de ser apoiados. Em 2021, a organização católica conseguiu prestar apoio, em Pemba, a aproximadamente 120 mil famílias, mas esse número baixou drasticamente no ano passado para apenas cerca de 50 mil pessoas e a situação foi-se “agravando”.
“Procuramos dar o nosso máximo com os poucos recursos que temos para atender o número de pessoas possível. O nosso desejo era atender a quase todos, mas não é possível, porque nem o próprio Programa Mundial de Alimentação consegue dar cobertura em todos os sítios”, lamenta o responsável.