A União Europeia criticou a atuação do Governo da Bielorrússia no contexto das eleições presidenciais no país, cuja primeira volta foi disputada no domingo num contexto de "violência estatal desproporcional e inaceitável contra manifestantes pacíficos".
Em comunicado divulgado esta segunda-feira, a alta representante diplomática da UE, bem como o vice-presidente da Comissão Europeia e o comissário europeu para o Alargamento, "condenam a violência e pedem a libertação imediata de todos os que foram detidos na noite passada", durante protestos que terão culminado em pelo menos um morto e 3 mil detidos.
"As autoridades bielorrussas devem garantir o respeito pelo direito fundamental dos cidadãos a manifestarem-se pacificamente", reforçam os responsáveis europeus. "Após esta mobilização sem precedentes por eleições livres e democráticas, o povo bielorrusso espera agora que os seus votos sejam cuidadosamente contabilizados. É essencial que a Comissão Central Eleitoral publique os resultados, refletindo a escolha do povo bielorrusso."
Esta segunda-feira, no rescaldo das eleições presidenciais, a oposição acusou o Presidente, Alexander Lukashenko, de fraude eleitoral, após ter sido anunciada a sua vitória com uma margem esmagadora de votos, o que levou milhares de pessoas às ruas e conduziu a sangrentos confrontos entre os manifestantes e a polícia.
De acordo com os resultados oficiais divulgados esta madrugada, Lukashenko, que está no poder na Bielorrússia há mais de 25 anos, conquistou 80% dos votos, contra apenas 9,9% para a sua principal rival nas urnas, Svetlana Tikhanouskay.
"As autoridades não nos estão a ouvir", acusa Tikhanouskay, uma ex-professora de inglês que decidiu candidatar-se à presidência após o seu marido, blogger crítico do atual Governo, ter sido detido. "As autoridades têm de encontrar formas pacíficas de transferir o poder. Claro que não vamos reconhecer estes resultados."
Desde 1995, todas as missões de observadores eleitorais independentes encontraram situações problemáticas em sufrágios no país. Desta vez, e nas semanas que precederam a ida às urnas, vários críticos de Lukashenko foram detidos, com outros opositores a serem alvos de investigações criminais.
Críticas e pressão
Os recentes acontecimentos na Bielorrússia estão a ser acompanhados de perto pela Rússia, cujas exportações de petróleo atravessam o território bielorrusso até ao Ocidente.
Moscovo vê na Bielorrússia uma "zona tampão" contra a interferência da NATO na região, tentando manter o país na sua órbita. Contudo, indica a Reuters, Lukashenko tem rejeitado tentativas recentes do Presidente russo, Vladimir Putin, em aprofundar as relações entre os dois países, denunciando-as como um ataque à independência da Bielorrússia.
Recentemente, Lukashenko disse mesmo que as manifestações e críticas ao seu Governo são parte de uma "guerra híbrida" orquestrada pelos seus inimigos, incluindo nessa classificação o Ocidente, a Ucrânia e a Rússia.
Face aos resultados das presidenciais, a Alemanha já pediu à UE que discuta a possiblidade de voltar a aplicar sanções ao país. A última ronda de sanções foi suspensa por Bruxelas em 2016, para fomentar uma relação mais próxima com a ex-nação soviética.
Apesar de a calma ter voltado às ruas da capital, Minsk, esta segunda-feira, há já várias convocatórias nas redes sociais para renovados protestos contra Lukashenko, marcados para esta noite, contra o que a população diz ser uma "farsa eleitoral".
Aos jornalistas, Tikhanouskaya, cujos comícios de campanha atraíram algumas das maiores multidões de que há memória desde a queda da União Soviética em 1991, declarou vitória nas eleições e denunciou uma "fraude em massa" por parte do Governo.
A oposição, que diz estar disposta a reunir-se com as autoridades, exige uma recontagem dos votos em todas as estações onde foram denunciados problemas, adiantaram os seus assessores, prometendo que os protestos vão continuar.