A Amnistia Internacional (AI) em Portugal está surpreendida com o crescimento, em massa, dos protestos um pouco por toda a China e teme que “redundem” em mortes se a China continuar a não ouvir as populações.
Na origem destas manifestações estão as restrições impostas pela China na estratégia “Zero Covid” e que já estão espalhadas por cidades como Pequim, Xangai ou Nanjing.
Os protestos intensificaram-se após a morte de dez pessoas num incêndio num edifício alvo de confinamento em Urumqi, na última quinta-feira.
De acordo com vídeos e testemunhos que circulam nas redes sociais, a indignação na sexta-feira que inundou a Internet chinesa, fortemente censurada, transformou-se no sábado em vigílias em memória das vítimas, com muitos dos utilizadores a sublinharem o facto de as vítimas terem passado os últimos cem dias das suas vidas confinadas em casa.
O diretor executivo da AI em Portugal, lembra que estas manifestações não são recentes, contudo é surpreendente a forma como cresce a persistência das pessoas.
“Toda a gente que saia, de algum modo, da cartilha de Xi Jinping sofre as consequências e isso está a acontecer agora em larga escala. Os protestos não são recentes, agora o que está a surpreender é que eles são massivos, a espalharem-se por várias cidades chinesas”, afirma, à Renascença, Pedro Neto, preocupado com o que pode ainda estar para vir.
“Vamos estar na expetativa do que pode vir a acontecer. Oxalá que isso não redunde em mais mortes e feridos. O que gostaríamos é que o Governo ouvisse as pessoas que se estão a manifestar”, refere, apelando para esse efeito.
“O Governo em vez de penalizar as pessoas por aquilo que estão a dizer e por aquilo que se estão a manifestar, devia ouvir o povo a quem serve”, tendo em conta que “a maioria destas manifestações são pacificas, ou eram no seu início, mas depois com a retaliação a violência vai crescendo”.
O diretor da AI sublinha que “esta censura e a vigilância massiva que a China tem feito, as ameaças de sentenças de prisão longas, são tudo formas de não ouvir as pessoas, e que são apenas problemas, anseios e opiniões perfeitamente legitimas”.
Os protestos na China são vistos por muitos especialistas como estando quase ao mesmo nível das manifestações que têm assolado o Irão, um país cujo regime totalitário não dá asas à liberdade de expressão, seja na política, seja na sociedade.
“Os casos são semelhantes entre Irão e a China. Embora o enquadramento histórico seja diferente, o tipo de repressão é semelhante”, atesta, Pedro Neto.
“Na China”, prossegue, “o braço de ferro e a falta de liberdade é ainda mais forte e duradoura. No Irão é discriminadora de género”.
O responsável da AI em Portugal lembra ainda que na China, “toda a gente tem de estar em sintonia com o poder absoluto de Xi Jinping”, seja “internamente no Partido Comunista Chinês”, seja para população.
“Tudo o que sai fora daquilo que é a norma do que o Governo chinês entende, sofre ainda mais repressão”, conclui, Pedro Neto.