Grandes rolos de papel, com um metro de largura, foram desenrolados em toda a extensão da praça do Martim Moniz, logo às primeiras horas da manhã. Pouco depois, começaram a chegar os fiéis, vestidos a rigor e de tapete de oração debaixo do braço, que colocaram por cima da extensa folha de papel colocada no chão. Tudo para assinalar o hajj, a peregrinação anual à cidade santa de Meca, que é considerada o último dos cinco pilares do Islamismo, e que cada muçulmano deve fazer, pelo menos uma vez na vida. Mesmo à distância, a peregrinação - que começou segunda-feira e se estende até ao próximo sábado - é assinalada, como neste caso, pela comunidade do Bangladesh.
Allahu Akbar. Allahu Akbar. Alá é Grande, dizem em uníssono, perto do fim da oração, os mais de dez mil muçulmanos que ali se concentraram. A cerimónia acaba e Rana Taslim Udin, presidente do Centro Islâmico do Bangladesh, distribui abraços a quem a ele se dirige, pelo meio de centenas de pares de sapatos colocados ao lado dos tapetes de oração.
Rana aproveita a oportunidade para lembrar que a comunidade espera há anos por uma promessa da autarquia, de construir uma mesquita na Mouraria. Em concreto, na Rua da Palma.
"Não se esqueceram", acredita Rana, só que "há muitas polémicas na política. Falamos há muitos anos sobre isto, mas cada vez que muda um dirigente ou que pessoas, ateus, dizem que não querem aqui qualquer mesquita ou templo", o processo encrava.
"Só que neste momento, precisamos dela. E este é o tempo para construir uma nova mesquita".
Só naquela zona da cidade vivem mais ou menos 15 mil muçulmanos, não só do Bangladesh, mas de outros países do Médio Oriente, de África ou da Ásia.
O projeto de construção de uma nova mesquita, na zona do Martim Moniz, foi anunciado há mais de uma década por António Costa, então presidente da Câmara. Mas tem esbarrado no processo de expropriação de dois edificios. O proprietário continua a ocupá-los, enquanto aguarda que os tribunais decidam um litígio sobre os valores popostos pela autarquia, que tomou posse administrativa desse edificado.
O presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, Miguel Coelho, diz que "falta decisão politica por parte do Sr Presidente da Camara Municipal. Falta meter mão á obra, depois de uma tentativa de recuo em relação ao projecto".
Para o autarca, a Câmara de Lisboa deve desenvolver as tramitações para que a obra possa começar o mais rapidamente possivel.
"A palavra dada é para ser cumprida. E a cidade é de todos, também deles. Tal como temos uma comunidade na diáspora, que queremos que seja respeitada e bem tratada, naturalmente temos esse dever para quem está aqui.
Isto vem de trás. Foi decidido por unanimidade e é para cumprir. Vemos cada vez mais cidadãos asiáticos na hotelaria, agricultura, higiene urbana. Há que ter isso em conta e respeitá-los", diz Miguel Coelho.
Quanto aos criticos da comunidade bengali, que tem crescido nos últimos anos, o Presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior é peremptório.
"Não há registo desde que sou presidente, há quase dez anos, de conflitos entre esta comunidade e a comunidade nacional. São uma comunidade resiliente, trabalhadora e pacifica, que se integra nas nossas atividades. Muito poucos sabem, mas a comunidade do Bangladesh faz-se representar na procissão católica da Senhora da Saúde".