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O médico Gustavo Tato Borges responsabiliza a "excessiva centralização" pelos atrasos na prometida realização de testes em massa à Covid-19.
Este domingo, o jornal Público dá conta de que um mês depois de ter sido anunciada a estratégia nacional de testagem massiva, lares, cadeias e empresas de maior risco continuam sem fazer testes de rastreio de 14 em 14 dias, ao contrário do que está previsto na norma da DGS.
“Até ao final do ano passado, os testes eram coordenados pelos delegados de saúde, pelos centros de saúde, eram pedidos pelos profissionais de saúde no terreno e havia uma grande intensidade de busca. Só que, com a diminuição de casos, esta decisão de fazer rastreios sistemáticos saiu da alçada da saúde pública e passou para as estruturas dirigentes", explica o também vice-presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública, em declarações à Renascença.
Entre estas estruturas, Tato Borges aponta "o Ministério, os hospitais e as entidades parceiras, como a Cruz Vermelha Portuguesa".
"Será sobretudo a Cruz Vermelha que vai fazer estas testagens ao nível dos lares, dos cuidados continuados e das creches e quando nós queremos um rastreio desta envergadura, um processo centralizado é muito difícil de organizar”, precisa.
“Ainda recentemente, ouvimos o presidente da Câmara do Porto a dizer que os testes nas escolas faria muito mais sentido serem articulados a nível local, porque seria mais fácil fazer esse trabalho de proximidade. E a verdade é que, antigamente, quando os testes eram pedidos pelos centros de saúde, havia uma articulação mais próxima. Até mesmo, por exemplo, com os lares de idosos, nós articulávamo-nos diretamente com os lares, eles mandavam-nos os seus utentes e nós íamos pedindo os testes."
Gustavo Tato Borges relembra que Portugal “tem capacidade laboratorial” e defende que o Serviço Nacional da Saúde deveria articular com as entidades privadas o processo de testagem.
“Porque não articular com as entidades privadas fazer estes testes? Já que pagávamos com prescrições através do SNS, porque não articular com eles o mesmo preço e ter a nível local, em cada concelho, este projeto? Centralizar isto tudo numa única entidade que está em Lisboa e não conhece as realidades locais tem tudo para correr mal, para demorar muito mais tempo e não surtir o efeito que se pretende que é testar as pessoas”, critica.
Gustavo Tato Borges, também presidente da Comissão Especial de Acompanhamento da Pandemia nos Açores, apela a uma rápida testagem em massa, para que o que se passa agora no arquipélago não venha a acontecer no continente.
“Se nós ficarmos à espera que apareça um caso para depois testar toda a gente, vamos andar atrás do prejuízo. Nos Açores, em quatro dias, passámos de zero caso diários para 34 porque encontrámos uma pessoa que foi ao hospital doente e nós não fomos capazes de a encontrar mais cedo porque a senhora não fazia parte dos grupos de rastreio periódicos e só quando foi ao hospital é que foi identificada e associada a esta pessoa temos 25 pessoas positivas”, alerta.
O jornal “Público” destaca, este domingo, que, um mês depois de as autoridades de saúde terem anunciado a testagem em massa à Covid-19 em locais de maior risco de contágio ou instituições com populações vulneráveis, a medida continua sem estar em prática.
De acordo com o “Público”, as unidades de cuidados continuados, cadeias, lares, instituições de acolhimento de menores ou refugiados e locais de trabalho com maior risco de transmissão continuam sem fazer testes de rastreio de 14 em 14 dias, como previsto desde 15 de fevereiro através de uma norma da Direção Geral da Saúde (DGS).
O Ministério da Saúde e a DGS não esclarecem o diário sobre o atraso na concretização da medida, nomeadamente se já foi feito um levantamento dos locais de trabalho com maior risco e se o governo já definiu quem vai pagar os testes. O gabinete de Marta Temido diz apenas que "a estratégia está a ser operacionalizada entre o Ministério da Saúde e outras áreas governativas e será oportunamente divulgada".
O "Público" conta ainda que para terça-feira está previsto o arranque dos testes rápidos nas escolas públicas e privadas, onde serão testados professores e funcionários desde o pré-escolar ao 12º ano, numa operação que incluirá ainda os alunos do secundário. Só na primeira vaga, deverão ser testadas quase 600 mil pessoas. Também serão contempladas as creches, que assim como o ensino pré-escolar e o 1º ciclo, reabrem na terça-feira.