As eleições presidenciais norte-americanas já marcam a história mundial, face ao contexto de pandemia, mas podem também ficar marcadas por focos de violência organizada.
Notícias recentes dão conta de que grupos pertencentes às candidaturas presidenciais de Donald Trump e Joe Biden preparam manifestações, ao mesmo tempo que o Presidente norte-americano se prepara para contestar a legalidade de muitos votos, caso a contagem chegue após o dia das eleições, e alerta para a possibilidade de fraude eleitoral.
Na cidade de Newark, estado de Nova Jérsia, existe uma grande comunidade de portugueses. Aos olhos de José Nunes, estas eleições despertam atitudes muito emocionais face a um clima de guerrilha, na política americana. “Porque há o voto silencioso, que é capaz de alterar tudo. Em muitas ruas não se vêem cartazes a apoiar nenhum dos lados porque há um receio muito grande. Toda a gente desconfia de toda a gente. Tenho amigos em vários estados que são detentores de armas e queixam-se de que há escassez de balas. Vai-se às lojas e não há munições. É muito estranho estarmos numa situação em que em vez de conversarmos sobre carros, conversamos sobre armas. Está tudo muito à flor da pele, sublinha.
Para este português, naturalizado norte-americano, nenhuma das propostas dos candidatos à presidência lhe suscita interesse, mas adianta que irá votar nestas eleições, para eleger governadores e autarcas.
José Nunes, trabalha na área da produção audiovisual. A profissão leva-o a ter de percorrer o país e garante que nunca viu tanta instabilidade, em período eleitoral.
A tese é corroborada por Daniela Melo, filha de emigrantes portugueses e professora de Ciência Política na Universidade de Boston, ao referir que há demasiadas incertezas e ansiedades, nesta ida a votos.
“Há medo que haja fraude eleitoral, há medo que as sondagens falhem ou que Trump não aceite os resultados. Para além disso, temos visto também que a polícia nas grandes cidades está preparada para confrontos violentos, sustenta.
A professora universitária refere ainda que assiste-se a uma corrida às armas, não só por parte de movimentos pró-Trump mas também por parte de apoiantes de Joe Biden.
As eleições de todas as incertezas
A viver há cerca de 40 anos em Filadélfia, estado da Pensilvânia, Paulo Santos, empresário português, não esconde que há receio nas ruas. A cidade foi recentemente palco de tumultos provocados pela morte de um afro-americano, às mãos da polícia.
“Muitos lojistas estão a entaipar as montras como forma de proteção. Espero que estas coisas que estão a acontecer não interfiram nas eleições, mas, não quer dizer que não possa acontecer algo”, desabafa.
Pela primeira vez, desde que vive nos Estados Unidos, Paulo Santos sente-se impelido a votar. Diz que a culpa é de Donald Trump: “Senti uma missão. Cheguei ao ponto de ter de praticar aquilo que digo. Donald Trump tem sido uma pessoa com muito crédito, para mim. Acredito nele a cem por cento e espero que ele ganhe as eleições.
O estado da Pensilvânia é um dos mais decisivos em eleições e onde Trump ganhou em 2016. Paulo Santos alinha também com a reabertura da economia, defendida pelo presidente norte-american, em época de pandemia. Afirma que o país não pode parar e que o presidente tem concedido bons incentivos. “Tem dado boas oportunidades para fazermos empréstimos nos bancos. Tem dado garantias de trabalho. O país continua a desenvolver e ele é por este país, alega.
A agitar a bandeira do Partido Democrata, no estado de Nova Jérsia, o português Albert Coutinho garante que os denominados impulsos à economia de Trump são um engano: “Porque fez com que o orçamento federal, por exemplo, entrasse em déficit, o que não é uma coisa sustentável a longo prazo. Vai obrigar a que o próximo presidente, seja ele quem for, venha a aumentar os impostos para pagar a dívida criada”
No país mais fustigado pela pandemia, Albert Coutinho que já foi deputado estadual, diz que só Joe Biden pode trazer confiança ao povo norte-americano.
“Ele tem um historial de ser centrista, de centro esquerda, mas do centro. Além disso é uma pessoa sensata que pode reerguer o país, porque, o verdadeiro impacto da pandemia ainda vai chegar. Vai haver uma recessão prolongada e precisamos de uma pessoa que trabalhe a construir consensos e não em dividir, assegura”.
Estas eleições norte-americanas são as mais concorridas de sempre. Pelo menos 90 milhões de norte-americanos já votaram antecipadamente.