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Major Tom, Ziggy Stardust... David Robert Jones, nome real de David Bowie. Mais do que um intérprete, um artista multifacetado. Atravessou gerações, influenciou gerações, inovou na imagem e sobretudo na sonoridade. Estava à frente do seu tempo e como ninguém soube reinventar-se.
“Space Oddity”, o primeiro grande sucesso, anunciava justamente isso: uma odisseia ímpar. Surpreendente, inovador, provocador. Os adjectivos não chegam para o qualificar.
A explosão “Ziggy Stardust” (como da simplicidade se faz uma genialidade) atirou-o para o estrelato. O lugar que sempre ambicionou. A melodiosa “Starman” revela isso mesmo. “Rebel Rebel” confere densidade ao furacão glam, mas, quando outros chegam a esse universo, Bowie já vai longe, muito longe.
“Somebody Up There Likes Me”, grita em “Young Americans”. Nesta altura, garante “Fame” como ninguém. Mas não se fica por aí.
Quando o punk domina e instala a desordem, Bowie mostra estar à frente do seu tempo. Eis a trilogia de Berlim. Abre a porta à new wave, abre as portas da década de 80. “Low”, “Heroes” e “Lodger” mostram um Bowie sofisticado, experimentalista, maduro, inatingível. Torna-se, ainda mais, referência para as novas gerações. Contudo, “nothing will keep us together”, pois Bowie deseja mais aventuras. “Scary Monsters” confirma isso mesmo. Susto? Só pela qualidade, pela recuperação de Major Tom em “Ashes to Ashes”.
O momento mais comercial surge na década de 80. “Let’s Dance” é o expoente máximo, virado para as tabelas de venda. Segue-se o período mais pobre da carreira, como o próprio o reconheceu. Regressa ao lugar dos “Absolute Beginners”
A idade não lhe retira a criatividade. Aproveita as novas tendências. Com “Outside” aprende com erros (mostra “Hearts’ Filthy Lessons”). Com esse disco e “Earthling” ganha uma nova vida. Vai beber às novas tendências, apadrinha os génios que o têm como referência absoluta. Sim, reinventa-se.
O derradeiro álbum, lançado no 69.º aniversário, mostra um novo Bowie, de novo experimentalista. Surpreendente, até chocante.
Um choque como é a morte. Partiu o homem que nos vendeu o mundo, que nos mostrou o mundo pelos seus próprios olhos. E nós aceitámo-lo como nosso.
“Blackstar” avisou-nos. Nós é que não percebemos.
Foram cinco décadas a viajar por esse mundo único. Hoje, mostrou-nos a realidade. Bowie é sinónimo de génio. Até no fim surpreendeu.