A rota marítima migratória desde o Senegal "é cada vez mais comum" e é provável que cenários como o ocorrido ao largo de Cabo Verde, onde morreram dezenas de migrantes numa piroga, voltem a acontecer, diz à Renascença a chefe de escritório da Organização Internacional para as Migrações (OIM) das Nações Unidas, Quelita Gonçalves.
São apenas 38 os sobreviventes entre mais de 100 que seguiam num barco em direção às ilhas Canárias. A piroga esteve mais de um mês à deriva e foi encontrada ao largo da ilha do Sal, em Cabo Verde.
O barco dirigia-se às ilhas espanholas com migrantes oriundos do Senegal e Guiné-Bissau, e pelo menos 63 pessoas morreram depois de passar 41 dias no mar.
"Esta é uma rota já bastante conhecida, porque nós sabemos que o trânsito em Marrocos foi fechado, e então a rota pelo Mediterrâneo ficou mais difícil", adianta a responsável.
"Há uma grande probabilidade de que esses barcos venham a chegar a Cabo Verde", afirma, acrescentando que o estudo das rotas e dos ventos que tem vindo a ser feito aponta nesse sentido.
Entre os sobreviventes estão quatro crianças, com idades entre os 14 e 17 anos. Estão seis pessoas hospitalizadas, mas todas se encontram fora de perigo.
Quelita considera que este é um problema de fundo e que Cabo Verde deve estar melhor capacitado para intervir em caso de necessidade de um novo resgate.
"Nós precisamos de acabar com isto e trabalhar de fundo as razões que fazem as pessoas abandonar os seus países de origem", acrescenta. "Cabo Verde deverá ter a capacidade de fazer buscas e salvamentos mais robustos, rápidos, proativos e coordenados para que possamos salvar vidas".
"Neste caso em específico, contámos com o apoio de um barco de pesca espanhol, mas em outras situações eu acredito que Cabo Verde vai precisar de estar igualmente preparado para fazer esta busca e salvamento".
Quelita Gonçalves diz que é da responsabilidade dos Estados fazer a monitorização das fronteiras e da extensão marítima. As Nações Unidas apenas podem reforçar a capacidade dos Governos de fazer essa gestão do território.
“Eu acredito que nós temos de trabalhar juntos para ter melhores canais de migrações regulares e seguros, para podermos minar este modelo de negócio dos contrabandistas".
"Daí a necessidade de mais cooperação internacional para abordar as razões pelas quais as pessoas deixam os seus países de origem, deixam as suas casas e arriscam a vida numa jornada mortal que é esta, saindo aqui da costa oeste africana até às ilhas Canárias. Por isso o nosso apelo é que é do nosso interesse trabalharmos juntos. Reiteramos todo o nosso apoio ao Governo de cabo Verde", frisa Quelita.