O Papa anuncia, na carta apostólica "Misericórdia e Mísera", publicada esta segunda-feira, a decisão de instituir um “Dia Mundial dos Pobres” na Igreja Católica, que vai ser celebrado no penúltimo domingo do ano litúrgico.
A celebração é inspirada no Ano Santo da Misericórdia, que se concluiu este domingo e, particularmente, no "Jubileu das Pessoas Excluídas Socialmente", que se celebrou, no Vaticano, a 13 de Novembro, dia em que se fecharam as Portas Santas em todas as catedrais e santuários do mundo.
“Intuí que, como mais um sinal concreto deste Ano Santo extraordinário, se deve celebrar em toda a Igreja, na ocorrência do XXXIII Domingo do Tempo Comum, o Dia Mundial dos Pobres”, escreve Francisco, explicando que vê nesta nova celebração a “mais digna preparação para bem viver a solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo”, que encerra o ano litúrgico na Igreja Católica, evocando a sua identificação com os “mais pequenos e os pobres”.
O “Dia Mundial dos Pobres” quer ajudar as comunidades e cada baptizado a “reflectir como a pobreza está no âmago do Evangelho”
“Não podemos esquecer-nos dos pobres: trata-se dum convite hoje mais atual do que nunca, que se impõe pela sua evidência evangélica”, sustenta.
Francisco defende que “não poderá haver justiça nem paz social” enquanto “Lázaro [nome dado por Jesus a um pobre numa das suas parábolas] jazer à porta da nossa casa”.
A iniciativa pretende ainda “renovar o rosto da Igreja” na sua acção de conversão pastoral para que seja “testemunha da misericórdia”.
O Papa deixa votos de que a Igreja Católica saiba dar vida a “muitas obras novas” que manifestem essa misericórdia, indo ao encontro dos que padecem a fome e a sede, “sendo grande a preocupação suscitada pelas imagens de crianças que não têm nada para se alimentar”.
Francisco elenca vários campos que exigem respostas concretas, como as migrações, as doenças, as prisões, o analfabetismo ou a ignorância religiosa.
A carta apostólica elogia os “muitos sinais concretos de misericórdia” que foram realizados durante o último Ano Santo, mas recorda que isso “não basta”, perante “novas formas de pobreza espiritual e material, que comprometem a dignidade das pessoas”.
O Papa recorda os desempregados, os sem-abrigo e sem-terra, as crianças exploradas e todas as situações que exigem uma “cultura de misericórdia” que combata a indiferença e a desconfiança entre seres humanos.
“As obras de misericórdia, tocam toda a vida duma pessoa. Por isso, temos possibilidade de criar uma verdadeira revolução cultural precisamente a partir da simplicidade de gestos que podem alcançar o corpo e o espírito, isto é, a vida das pessoas”, precisa.
A carta apostólica conclui-se com a convicção de que se vive “o tempo da misericórdia” para todos os que sofrem, das mais diversas formas.
"Existem muitos sinais concretos de bondade e ternura para com os mais humildes e indefesos, os que vivem mais sozinhos e abandonados. Há verdadeiros protagonistas da caridade, que não deixam faltar a solidariedade aos mais pobres e infelizes", refere o Papa.