O antigo secretário de Estado da Saúde, Lacerda Sales, admite não se lembrar se solicitou ou não, uma consulta para as gémeas no Santa Maria. Após ter recusado qualquer intervenção, agora, em resposta por escrito à SIC, diz não poder negar algo que não se lembra.
A estação de televisão avança que a Inspeção-Geral das Atividades em Saúde já estará na posse de um documento enviado por uma secretária de Lacerda Sales, a pedir a marcação da consulta.
O antigo governante diz-se surpreendido e promete solicitar à IGAS toda a documentação do polémico caso.
Diretor clínico do Santa Maria “sabe tudo”
Já o diretor de Neuropediatria do Santa Maria afirma que o diretor clínico do hospital será a chave do caso das gémeas. Em entrevista à TVI, Levy Gomes diz que Luís Pinheiro sabe tudo, uma vez que terá sido o interlocutor das alegadas pressões.
“Ele é que sabe tudo. Ele é a pessoa chave, porque ele é que sabe tudo, porque ele é o pivô entre o ministério ou entre o doutor Rebelo de Sousa - pai - e o doutor Rebelo de Sousa - filho. Ele é quem recebeu a mensagem e que a transmite à minha diretora, e que a minha diretora marca a consulta”, explica.
Nesta entrevista à TVI, o diretor de Neuropediatria do Hospital de Santa Maria diz que já entregou à Inspeção-Geral de Atividades em Saúde os emails trocados com o Presidente da República.
“À IGAS entreguei os emails que troquei com o professor Rebelo de Sousa, entreguei os emails que troquei com o doutor Luís Pinheiro, dois ou três, entreguei a célebre carta que desapareceu”, adianta.
O médico disse ainda que “há muito tempo que desaparecem alguns e-mails”.
“Ele [diretor clínico do Santa Maria] pode estar descansado que eu não vou divulgar nenhum e-mail, exceto se houver mentiras”, completa.
Em causa está uma reportagem da TVI segundo a qual duas gémeas luso-brasileiras vieram a Portugal em 2019 receber o medicamento Zolgensma, - um dos mais caros do mundo – para a atrofia muscular espinhal, que totalizou no conjunto quatro milhões de euros.
Segundo a TVI, há suspeitas de que isso tenha acontecido por influência do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que já negou qualquer interferência no caso.
Na segunda-feira, Marcelo Rebelo de Sousa revelou que a correspondência sobre este caso começou em 21 de outubro de 2019 com um email que o seu filho, Nuno Rebelo de Sousa, lhe enviou, sublinhando ter dado um despacho “neutral e igual a que deu em ‘n’ casos”.
Acrescentou não ter havido “intervenção do Presidente da República pelo facto de ser filho ou não ser filho”, com a troca de informação junto da Presidência a terminar dez dias depois, em 31 de outubro.
“O que se passou a seguir não sei, para isso é que há a investigação da PGR. E espero, como disse há dias, que seja cabal, para se perceber o que se passou desde o momento em que saiu de Belém”, afirmou.
O caso está também a ser analisado pela Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS) e é objeto de uma auditoria interna no Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Norte, do qual faz parte o Hospital de Santa Maria.