A eventual introdução de portagens na Via de Cintura Interna (VCI), tal como defendido pelo presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, poderá configurar uma ilegalidade, alerta a Associação Nacional de Transportadores Públicos Rodoviários de Mercadorias (ANTRAM).
Na resposta à recente do autarca portuense à estação televisiva Porto Canal, o presidente da ANTRAM, Pedro Polónio, lembra, em declarações à Renascença, que a possibilidade admitida por Rui Moreira, a concretizar-se, vai “aumentar um problema que afeta muito aquilo que é o tecido empresarial e exportador do nosso país”, numa região que, segundo o dirigente associativo, “é tremendamente mais portajada do que a região sul e, sobretudo, a Área Metropolitana de Lisboa”.
Na entrevista que concedeu ao Porto Canal, Rui Moreira foi questionado sobre qual seria a solução ideal para resolver os fortes constrangimentos de tráfego na VCI e admitiu como solução a introdução de portagens para as viaturas que não tivessem a cidade do Porto como destino.
Confrontado com esta ideia do autarca do Porto, o presidente da ANTRAM fala de um “problema de conceção na sua base”. Pedro Polónio lembra que “uma portagem é uma taxa da qual teremos, nós que pagamos, receber um serviço e o que me parece que está aqui a ser adiantado pelo Presidente da Câmara do Porto é uma penalização, uma portagem concebida para punir os transportadores, o que, na sua base, é uma ilegalidade.
Noutro plano, Pedro Polónio rejeita a ideia de que os camiões sejam o problema da VCI e apresenta números que contrariam os argumentos de Rui Moreira: “das cerca de 125 mil viaturas que passam na VCI por dia, apenas 10 a 15% são viaturas pesadas”.
Por isso, o presidente da ANTRAM sugere que, “antes de se focarem nos camiões, foquem-se no que é que está a ser feito na zona metropolitana do Porto para retirar os carros particulares, muitos deles apenas com uma pessoa, por forma a atacar o problema com muito mais materialidade do que se virando para os transportes pesados de mercadorias”.
CREP “não é solução” se mantiver portagens
A solução que tem sido defendida pelos autarcas da Área Metropolitana do Porto para descongestionar a VCI prevê o desvio de veículos, nomeadamente os de transporte de mercadorias, para a Circular Regional Externa do Porto (CREP), que percorre os concelhos de Matosinhos, Maia, Valongo, Paredes, Gondomar, Gaia, Feira e Espinho, numa extensão de 62 quilómetros.
“Nunca vão ter o acordo da ANTRAM de desviarem os carros da VCI para a CREP, tal como a CREP está portajada”, assegura Pedro Polónio.
As contas da associação de transportadores pesados de mercadorias indicam que, “desde a zona de Espinho até à parte norte, em que entronca novamente na A3, a CREP representa um sobrecusto de quase 10 euros em cada passagem para um camião… isso não é solução”.
“Todo o tráfego de proximidade do Porto tem necessariamente de passar na VCI, a não ser que quem governa o Porto e a zona metropolitana ache que pode viver sem camiões, mas aí vão ter um problema nos supermercados. Acho que todos percebemos e há saber conviver com com tudo isto”, remata o líder da ANTRAM.
Portagens na VCI "é difícil explicar às pessoas", diz Eduardo Vítor Rodrigues
Enquanto isso, o presidente da Área Metropolitana do Porto e autarca de Vila Nova de Gaia admite na Renascença que a solução poderá passar pela “combinação da futura Linha Rubi do Metro do Porto com a retirada de veículos pesados da VCI, com a utilização da CREP para pesados sem pagamento”.
Para Eduardo Vítor Rodrigues, “talvez essa solução tivesse maior impacto do que criar mais uma taxa, mais uma inibição”.
Este argumento, que contraria a sugestão de Rui Moreira, é justificado pelo autarca de Gaia com a noção de que “esse tipo de questões, como a introdução de portagens, é sempre mais difícil de explicar às pessoas”.
“Hoje, é, talvez, mais fácil explicar que se utilize um equipamento público que custou milhões, que foi a CREP, que hoje tem uma circulação baixíssima, que dá prejuízo à concessionária - e esse prejuízo é compensado pelo Estado. Talvez valesse a pena pensar nessa alternativa como alternativa viável e os transportadores estão muito disponíveis para esta solução”, conclui Eduardo Vítor Rodrigues.