Milhares de pessoas ao lado de centenas de tratores estão esta quarta-feira a manifestar-se nas ruas do centro de Madrid contra políticas e regulamentos europeus para a agricultura, com críticas também ao Governo de Espanha.
Segundo as autoridades, foi permitida a entrada no centro de Madrid de 500 tratores, que desde o início da manhã confluíram para a cidade em cinco colunas oriundas de diversas localizações em redor da capital espanhola.
O ponto de encontro dos tratores foi a Porta de Alcalá, um dos símbolos de Madrid e onde também desde o início da manhã se foram concentrando agricultores, que chegaram à cidade em autocarros.
Com coletes amarelos refletores, chocalhos, apitos, vuvuzelas, bandeiras de Espanha e cartazes, os agricultores criticam "a asfixia" dos regulamentos europeus e aquilo que consideram ser a passividade do Governo espanhol perante a burocracia e regras a que estão sujeitos.
"Amnistia para o campo, não burocracia", "não somos a Espanha esvaziada, somos a Espanha abandonada", "se o campo não produz, a cidade não come", lê-se em alguns dos cartazes e faixas empunhados pelos agricultores ou colocados nos tratores.
Segundo a convocatória da manifestação, permitida pelas autoridades, tratores e agricultores a pé farão ao início da tarde uma marcha até ao Ministério da Agricultura, na rotunda de Atocha, onde também se foram concentrando centenas de pessoas ao longo da manhã.
A rotunda da Porta de Alcalá está cortada desde o início da manhã pelos manifestantes e a Câmara Municipal de Madrid afirmou haver complicações com o trânsito e os transportes públicos no centro da cidade por causa do protesto, incluindo 127 linhas de autocarro com perturbações ou suspensas.
A manifestação foi convocada pela associação União de Uniões, que acusou as autoridades de terem vetado o acesso a Madrid a pelo menos 800 tratores porque havia 1.500 veículos preparados para participar no protesto.
A Delegação do Governo (a entidade responsável por autorizar e organizar os dispositivos de segurança das manifestações) disse, num comunicado, que foram impedidos de entrar 150 tratores em Madrid e porque excediam os 500 que constavam na convocatória do protesto.
Os agricultores espanhóis, em linha com o que está a acontecer noutros países da União Europeia, estão a manifestar-se nas ruas todos os dias, consecutivamente, desde 6 de fevereiro.
As manifestações, em diversos pontos de Espanha, estão a ser convocadas pelas associações de agricultores, mas também de forma informal nas redes sociais.
O protesto desta quarta-feira é o maior que já ocorreu em Madrid.
O ministro da Agricultura, Luis Planas, disse hoje que o Governo espanhol respeita o direito à manifestação dos agricultores e que espera que o protesto decorra com normalidade e sem incidentes.
Na semana passada, o executivo apresentou um pacote de 18 medidas para responder a reivindicações dos agricultores, mas as confederações do setor decidiram manter os protestos que tinham já agendados, apesar de reconhecerem "avanços importantes".
As 18 medidas e propostas foram apresentadas pelo ministro Luis Planas, que reconheceu que boa parte são competência da UE e, por isso, o compromisso é propô-las e defendê-las em Bruxelas.
Entre essas propostas que Espanha defenderá nas instâncias europeias estão várias para flexibilização de regras da Política Agrícola Comum (PAC), a simplificação de procedimentos e diminuição de burocracia e mais exigências para produtos importados do exterior da UE, as designadas "cláusulas espelho" (impor às importações as mesmas regras de produção impostas dentro dos Estados-membros).
Espanha é o primeiro exportador da UE de frutas e legumes.
Os agricultores europeus, incluindo em Portugal, têm saído à rua nas últimas semanas para exigir a flexibilização da PAC e mais apoios para o setor.