António Costa foi “ao banco de reservas” buscar os novos ministros, uma "afronta ao Estado de Direito", “manter os equilíbrios internos” e "promoções". Foi assim que a oposição à direita do PS reagiu à mini-remodelação no Governo anunciada esta segunda-feira.
Após a demissão de Pedro Nuno Santos do Governo, o primeiro-ministro decidiu dividir o ministério ao meio e promover dois secretários de Estado. João Galamba passa de secretário de Estado da Energia e Ambiente a o novo ministro das Infraestruturas, e Marina Sola Gonçalves de secretária de Estado da Habitação a nova ministra do setor.
O líder do PSD foi o primeiro a reagir. Luís Montenegro acusa António Costa de ter de ir “ao banco de reservas” buscar os novos ministros e de apenas fazer “promoções” e não uma verdadeira remodelação no Governo.
“No momento de maior crise do Governo, o primeiro-ministro desapareceu, ninguém o ouviu nestes dias, e vai reaparecer hoje de braços caídos a ir ao banco de reservas fazer uma remodelação que, em bom rigor, nem isso é. Não entra ninguém novo no Governo, o dr. António Costa perdeu definitivamente a capacidade de recrutamento, estas promoções são apenas ir buscar aparelho ao aparelho”, acusou Luís Montenegro, em declarações aos jornalistas.
Montenegro acusou o primeiro-ministro de já ter perdido “os titulares” de ministérios em áreas fundamentais como a saúde, mobilidade ou habitação, bem como o seu adjunto direto, e considerou que também “já perdeu o ministro das Finanças”, Fernando Medina, que considera um "peso morto no Governo".
Galamba é afronta aos portugueses, diz Ventura
O presidente do Chega, André Ventura, considera que a escolha de João Galamba para ministro das Infraestruturas "é uma afronta ao Estado de direito e aos portugueses".
"A nomeação de João Galamba é uma afronta ao país e à justiça", sustentou o líder do Chega, depois de recordar que o novo ministro das Infraestruturas "está a ser investigado pelos negócios do lítio e do hidrogénio", além de ter sido, afirmou, "quem avisou José Sócrates da Operação Marquês".
Ventura disse saber da existência de uma "investigação de uso de dinheiros públicos que envolvem João Galamba", considerando que o Presidente da República deveria ter colocado esta questão ao primeiro-ministro antes de aceitar a nomeação.
"O Presidente da República colocou essas questões? Deveria ter colocado", disse o dirigente do Chega, alegando que "nomear um ministro visado pela Justiça parece ser uma afronta ao Estado de Direito e uma afronta aos portugueses".
Para o líder do Chega, Marcelo Rebelo de Sousa "não o deveria ter feito" porque "os casos" que envolvem João Galamba "vão fragilizar a sua autoridade política no Governo".
Costa quer “manter os equilíbrios internos”
A Iniciativa Liberal (IL) considera que o Governo está fragilizado, tal como o ministro das Finanças, acusando o primeiro-ministro de ter feito uma remodelação para “manter os equilíbrios internos” dentro do PS e não a pensar “no futuro do país”.
“António Costa tinha esta oportunidade de despartidarizar o Governo e aquilo que fez foi exatamente o oposto porque o objetivo de António Costa não foi equipar o Governo com as melhores pessoas, mas apenas manter os equilíbrios internos dentro do seu partido”, criticou, em declarações à agência Lusa, o deputado da IL Carlos Guimarães Pinto a propósito das mudanças hoje conhecidas no Governo.
Na opinião do liberal, o primeiro-ministro “continua a governar para o partido e não para o país”.
“Eu não sei se foi verdadeiramente António Costa que escolheu estes dois novos ministros ou se foi Pedro Nuno Santos porque estamos a falar de duas pessoas muito ligadas a Pedro Nuno Santos”, disse.
Carlos Guimarães Pinto defendeu ainda que “o Governo está neste momento muito fragilizado”.
“Fragilizado por todos estes casos que António Costa tende a subvalorizar, mas que tiveram um impacto no Governo e fragilizado porque tem um ministro das Finanças que está fragilizado”, enfatizou.
Para o deputado da IL, o que o primeiro-ministro sinalizou nesta remodelação foi “mais uma vez alguma fragilidade política que o Governo tem, algo que não se esperaria de um Governo com nove meses”.
“António Costa falou muito sobre estabilidade pela mesma razão que os índios falam muito sobre chuva: é porque não tem muita. Alguma vez aconteceu um Governo de maioria absoluta com nove meses viver neste clima permanente de instabilidade? Isto nunca aconteceu”, afirmou.
"Governo absolutamente esgotado"
O CDS-PP defende que a escolha de João Galamba e Marina Gonçalves para ministros "mostra um governo absolutamente esgotado e a funcionar em circuito fechado".
Em comunicado, os centristas argumentam que o executivo está a funcionar "dentro de um núcleo cada vez mais restrito do PS de José Sócrates ou das áreas de influência de Pedro Nuno Santos, de que António Costa está refém, optando por pessoas sem qualquer currículo ou experiência".
"Estas escolhas reforçam a instabilidade e fragilidade da caótica governação socialista, e comprovam a oportunidade do apelo do CDS relativamente à necessidade de dissolução do parlamento e de eleições antecipadas", refere ainda o partido que perdeu a sua representação parlamentar nas legislativas de janeiro de 2022.