"Papa, cadê você? Eu vim aqui só p'ra te ver!", gritam quatro peregrinas em coro à frente da Nunciatura Apostólica já depois de o Papa Francisco recolher ao local onde pernoita. Às costas trazem bandeiras brasileiras e insistem que querem conversar com o chefe máximo da Igreja Católica. Cinco minutos antes estiveram a poucos metros do Papa, que acenou e sorriu para os jovens.
Há quem atravesse o planeta para ver o Papa de perto e há quem tenha estado ao pé dele de forma involuntária.
"Viemos em direção à casa dos frangos e vimos polícia"
Um grupo de dez peregrinos está aos gritos enquanto vê o Papa Francisco numa cadeira de rodas a escassos metros. Têm entre 15 e 29 anos e vieram da Póvoa de Varzim até Lisboa para a JMJ. Duas delas choram efusivamente nos minutos que se seguem e o grupo abraça-se como se fosse uma equipa de futebol antes do jogo começar.
Parece que foi o momento pelo qual tanto planearam e esperaram, mas tudo não passou de um enorme acaso. Ainda a enxaguar as lágrimas, Mariana Lopes explica à Renascença como vieram aqui parar.
"Desde ontem que queríamos comer frango. Estávamos aqui perto e vimos que havia uma casa dos frangos por aqui [junto à Nunciatura]. Viemos em direção à casa dos frangos e vimos polícia, que pediu para nos revistar", descreve, e assume que ficou perplexa na altura: "Eu perguntei-lhes porquê, e eles perguntaram-me: «Não querem ver o Papa?"
Mariana Lopes já tinha estado na JMJ de Madrid, em 2011, e nem sequer viu Bento XVI por estar demasiado longe, e mentalizou os amigos mais novos para que isso pudesse vir a acontecer em Lisboa.
Mas o destino tem destas coisas. Por terem chegado cedo tiveram acesso à zona mais próxima da porta da porta da Nunciatura Apostólica. A maioria destes jovens nunca tinham visto o Papa e o acaso a fê-los estar a menos de cinco metros do Sumo Pontífice.
De Luanda a Lisboa
Ao lado deste grupo de jovens estridentes estão dois amigos que vieram de Angola para a Jornada Mundial da Juventude. "O povo português é excelente", resume Artur Gus Canhengue à Renascença.
Traz uma enorme bandeira angolana às costas, fala numa experiência "muito forte" e promete: "Daqui não saímos, vamos esperar pelo Santo Padre".
Mulher de 76 anos: "juventude acumulada"
Nem só de jovens se faz a Jornada Mundial da Juventude. Nos eventos oficiais, os mais novos são predominantes. Mas nos momentos para ver o Papa Francisco passar pela cidade há muitos lisboetas que se infiltram.
Aos 76 anos, Maria da Piedade está na Nunciatura pela terceira vez. Já viu o Papa João Paulo II, o Papa Bento XVI e acaba de ver Francisco a escassos metros: "É juventude acumulada", diz enquanto se ri.
"Estamos aqui de empréstimo, que isto é da juventude", vinca apesar de não arredar pé. "Acho que ele olhou para mim! Com tanta juventude ele olhou para nós, foi uma excitação", afirma com um ar satisfeita. Ao lado tem duas mulheres de idade idêntica.
"Senti-me capaz, ele [Papa Francisco] tem um olhar de quem olha mesmo. As senhoras ao meu lado estavam a dizer que ele tinha olhado para elas, e eu acho que ele olhou para mim", recorda o momento.
Depois de várias horas em que muitos peregrinos fizeram cânticos à porta da Nunciatura e chamaram pelo Papa Francisco, soube-se através de um comunicado do Vaticano que nesse momento o Papa esteve reunido com vítimas de abuso sexual no seio da Igreja Católica. Já ao final da noite, um polícia dirigiu-se aos jovens para lhes pedir que abandonassem o local e dessem algum descanso a Francisco.
"Sua Santidade o Papa quer descansar", acatou um peregrino em cima de uma árvore: "Voltamos amanhã", apelou aos parceiros com quem cantou durante horas a fio.