A ministra dos Transportes de Espanha, Raquel Sánchez, disse esta quarta-feira que Lisboa e Madrid estarão ligadas no final de 2023 por uma linha de comboio "digna e de qualidade".
Raquel Sánchez falava numa audição parlamentar sobre o funcionamento do primeiro troço de "comboio rápido" (a que hoje se referiu como "alta velocidade") na região da Extremadura espanhola, entre Plasencia e Badajoz, na fronteira com Portugal.
"Melhorará também as ligações internacionais quando a linha que unirá Elvas-Badajoz com Lisboa e com Sines for uma realidade, o que está previsto para final do ano que vem. Lisboa, Badajoz e Madrid estarão unidas por uma linha ferroviária digna e de qualidade", disse a ministra.
Antes, Raquel Sánchez tinha dito que este primeiro troço de comboio rápido na Extremadura é "uma grande oportunidade" para o mais de um milhão de habitantes desta região, que faz fronteira com o Alentejo, referindo que a torna "mais competitiva" e que já está a atrair investimentos por causa da possibilidade de transporte de mercadorias por via ferroviária.
Raquel Sánchez foi confrontada pela oposição com o facto de o comboio rápido ter chegado este ano à Extremadura, como prometido pelo Governo espanhol, mas de não permitir a ligação para "outros territórios", nomeadamente, regiões vizinhas e Madrid.
Isto porque o troço, com cerca de 150 quilómetros, que começou a funcionar em 19 de julho, une Plasencia a Badajoz, não está ligado depois a qualquer outra linha de alta velocidade.
Assim, a ligação ferroviária entre Plasencia e Madrid continua a ser feita numa linha convencional, não eletrificada e com apenas uma via (que não permite o cruzamento de comboios fora de uma estação).
Ainda assim, a viagem de comboio entre Badajoz e Madrid passou a ter menos 51 minutos.
Segundo a viagem de teste feita em junho no novo troço, o comboio demora duas horas e 15 minutos, com duas paragens (Mérida e Cáceres), a que se juntam mais quase três horas para quem quiser seguir até Madrid.
O comboio no novo troço circula com uma velocidade média de pouco mais de 100 quilómetros por hora, segundo disseram hoje deputados da oposição, que sublinharam que não é uma linha "de alta velocidade".
Os deputados da oposição acusaram também o governo espanhol de ter apressado a inauguração deste troço, para dizer que foi cumprida a promessa de levar a alta velocidade até agosto deste ano à Extremadura, o que resultou em incidentes e atrasos frequentes na linha.
"É o comboio da vergonha", "uma piada" e "gato por lebre", disseram os deputados da oposição, que fizeram eco de protestos da população da Extremadura, que sublinha que o "comboio rápido" não é um comboio de alta velocidade e até Madrid, como foi prometido há mais de 20 anos pelas autoridades espanholas.
A promessa foi sendo repetida pelos diversos governos, sem nunca se concretizar, até ter havido diminuição da oferta e, em 2012, uma promessa de um "comboio rápido" que só este ano se materializou e apenas num troço.
Um dos comboios suprimidos nesta região foi o Lusitânia, em 2011, entre Lisboa e Madrid, que atravessava a fronteira portuguesa do Caia e entrava em Espanha por Badajoz.
O comboio de alta velocidade nesta linha chegou a estar negociado com Portugal, com os dois países a anunciarem a ligação entre Madrid e Lisboa, por Badajoz, numa cimeira em 2002 entre os dois governos, então liderados por Durão Barroso e José Maria Aznar.
As más ligações ferroviárias na região levaram 40 mil pessoas da Extremadura até Madrid, em novembro de 2017, para se manifestarem no centro da capital, reivindicando "comboios dignos", e há novo protesto convocado para 08 de setembro.