O secretário de Estado adjunto e da Saúde, António Lacerda Sales, admitiu esta quarta-feira que o Estado pode vir a recorrer aos privados e ao setor social nesta segunda vaga da pandemia de Covid-19.
À Renascença, o presidente da Associação Portuguesa de Hospitais Privados indica que o setor está disponível "desde finais de março" para ajudar mas que ainda não foi contactado pelo Ministério da Saúde.
"Não fomos contactados pelo Ministério da Saúde, embora o Ministério saiba, desde finais de março, que os hospitais privados têm capacidade e disponibilidade para apoiar quer a luta contra a Covid-19, quer os doentes não-Covid", diz Óscar Gaspar.
No fórum TSF esta manhã, Lacerda Sales indicou que o Sistema Nacional de Saúde (SNS) ainda não esgotou as suas capacidades no combate à pandemia e adiantou que, caso tal aconteça, e "em função das necessidades, o Ministério da Saúde estará sempre disponível para trazer o setor social e o setor privado", que "podem complementar o SNS no combate à pandemia" e "ser importantes na resposta Covid, mas também na resposta não-Covid".
Óscar Gaspar ressalta que os hospitais privados atualmente representam "um terço do total da capacidade hospitalar" do país.
"Não estamos a falar de coisa pouca. Hoje há capacidade desaproveitada e nós o que temos dito ao Ministério da Saúde é, se e quando assim o entenderem, nós estamos disponíveis para colaborar e para receber e tratar mais doentes, nomeadamente os não-Covid, que precisarem de cuidados", indica o presidente da associação dos hospitais privados.
Durante o primeiro pico da pandemia, o Governo decidiu não recorrer aos privados para reforçar o SNS e sobre isso Óscar Gaspar faz referência à carta aberta hoje divulgada pela Ordem dos Médicos, na qual é sublinhado que houve 100 mil cirurgias atrasadas, mais de um milhão de consultas hospitalares suspensas e milhares de rastreios por fazer.
"Os números dispensam adjetivos", diz o representante dos hospitais privados. "Os números da mortalidade aumentaram em Portugal. Não sabemos com rigor exatamente qual é a causa, fala-se de um pico de calor no verão e eu assumo que pode haver aí parte da justificação. Agora, no caso de oncologia, por exemplo, estamos a falar de centenas e centenas de casos que não foram diagnosticados durante os meses de março, abril e maio", critica Óscar Gaspar.
Esta quarta-feira, o Governo decretou novamente estado de calamidade em todo o país, anunciando oito novas medidas para conter a propagação do novo coronavírus.
O anúncio foi feito depois de a DGS ter anunciado o maior aumento diário de casos de Covid-19 desde a chegada da pandemia a Portugal; entre ontem e hoje, foram registadas mais 2.072 novas infeções por SARS-CoV-2.