O presidente da Câmara Municipal de Mação, que em 2017 viu reconhecida a necessidade de declarar calamidade pública no concelho face aos incêndios, considera "legítimo" e "aceitável" o pedido formulado pelos autarcas da Serra da Estrela na reunião desta segunda-feira com o ministro da Administração Interna.
Vasco Estrela recorda, em declarações à Renascença, as “nefastas” consequências dos grandes incêndios que, em 2017 e 2019, levaram entre “75% a 80% da sua floresta”, para garantir que “é necessário que quando acontece este tipo de incêndios haja medidas de mitigação relativamente rápidas”, uma vez que “há toda uma destruição do ecossistema que tem de ser reposto”.
"Não podemos esquecer que estamos em zonas rurais onde muitas vezes muitos agricultores dependem daquilo que a terra lhes dá, e portanto, com este reconhecimento de calamidade pública o Governo pode e deve acionar mecanismos de apoio aos municípios, às empresas, às populações, e em particular aos agricultores.”
O presidente da autarquia de Mação considera fundamental “este tipo de medidas que tentam mitigar as graves consequências dos incêndios, que têm um impacto inicial mas que deixam um rasto de destruição que, infelizmente, perdura durante dezenas de anos”.
“É preciso avaliação independente”, defende especialista
Noutro plano, o presidente do Conselho Nacional de Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (CNADS) defende a necessidade de uma avaliação independente à forma como está a decorrer o combate aos incêndios.
Filipe Duarte Santos, que integrou o observatório técnico independente da Assembleia da República para os incêndios florestais e rurais, lembra que "em qualquer país da União Europeia" se fazem essas avaliações independentes.
“Não estou de modo nenhum a sugerir que seja reconstruído o observatório. Estou a dizer que é importante que neste tipo de processos, tal como se pratica em outros países da União Europeia e de outras regiões do mundo, que as avaliações sejam feitas de forma independente”, esclarece.
À Renascença, o professor universitário afirma que "houve algumas falhas no que respeita aos incêndios nas zonas florestais", por força da necessidade de se "apostar na defesa de pessoas e de bens", e cita alguma "incapacidade" por parte das autoridades no terreno.
"Observou-se em alguns incêndios uma incapacidade de evitar que os incêndios aumentassem nos seus flancos, e portanto, houve falhas no que respeita ao combate aos incêndios em zonas propriamente florestais.”
Numa primeira avaliação da situação, o especialista adianta que "é deplorável" o facto de ter ardido um quarto da área do Parque Natural da Serra da Estrela.
Filipe Duarte Santos reforça a ideia de que “houve uma concentração do combate para proteger as pessoas e os seus bens”, mas “em termos do valor ambiental que a floresta representa, aí realmente as notícias não são as melhores, em particular no caso da Serra da Estrela”.