A invasão da Ucrânia não está a trazer para a Rússia os benefícios esperados. Agora Putin procura encontrar vantagens em África – ou, pelo menos, incita os africanos a criticarem os países ocidentais.
Mas os russos não têm boas memórias de quando foram ajudar o governo do MPLA em Angola. Existiu então uma clara dificuldade de relacionamento dos russos com o povo angolano. Putin parece ter agora encontrado uma via para influenciar governos africanos – o grupo Wagner.
Este grupo, estreitamente ligado aos serviços russos de informação militar, encarrega-se de atacar governantes africanos com ligações a países ocidentais – França, nomeadamente. E se ocorrem violações de direitos humanos por parte dos mercenários do Wagner, Moscovo desculpa-se, alegando não ter nada a ver com o assunto. Entretanto, os elementos do grupo Wagner envolvem-se em negócios ligados à extração de minerais do solo e subsolo do Níger e de outros países da África Ocidental.
No Níger, país pobríssimo, embora possua urânio, o governo foi derrubado por uma revolta militar, à frente da qual esteve... o chefe da guarda presidencial. É mais um país da Africa Ocidental a sofrer um golpe militar – houve ali 13 golpes desde 2021. Esta região é vítima, também, de grupos radicais islâmicos, que os militares franceses procuravam travar de modo a defenderem as populações locais, cooperando para tal com o exército do Níger. Mas a França tem vindo a retirar os seus militares daquela região; o Níger é apenas o último caso.
Imediatamente após o golpe no Níger, os países da Comunidade Económica de Desenvolvimento da África Ocidental (CEDEAO) ameaçaram intervir com uma força militar para repor a legalidade no Níger. Mas tal intervenção parece posta de lado. Em quatro dos 15 países membros da CEDEAO os militares no poder estão sob influência do grupo Wagner, o que certamente desencorajou qualquer tentativa de contra golpe.
Os Estados Unidos possuem no Níger duas bases e mais de mil homens. Washington não suspendeu o auxílio ao país e mantém-se expectante, provavelmente na esperança de limitar os prejuízos do golpe de Estado.
Comenta o Le Monde em editorial: “não existe uma boa solução para o caos nigeriano; apenas há uma certeza: os Ocidentais devem reconsiderar, em profundidade, a sua política para a África Ocidental”.
Francisco Sarsfield Cabral