Só nos últimos quatro meses, entraram em Portugal 2.920 timorenses. São oito vezes mais do que no mesmo período do ano passado (350), muito mais do que em 2020 (52), e também muito acima do que aconteceu em 2019 (471), ainda antes da pandemia.
A maior parte destes timorenses chega atraída por falsas promessas de emprego e os que não têm qualquer ligação ao nosso país acabam por ficar abandonados á sua sorte.
A Alta Comissária para as Migrações, Sónia Pereira, revela à Renascença que “estão identificados cerca de 680 cidadãos em situação de maior fragilidade ou desproteção, concentrados de forma mais significativa no distrito de Beja, mas também em Lisboa e no Fundão”.
Sónia Pereira explica que muitas das pessoas que têm chegado nos últimos meses “estarão, entretanto, devidamente enquadradas, porque têm o apoio de familiares dentro da comunidade timorense" e "esses conseguirão fazer o seu caminho".
Sobre os eventuais esquemas criminosos que têm trazido estes timorenses para Portugal, a Alta Comissária para as Migrações diz que “a informação recolhida junto das pessoas não é muito clara relativamente à informação que tinham sobre a vinda para Portugal e sobre aquilo que poderiam esperar em termos laborais".
"Alguns estiveram durante períodos de tempo a trabalhar, de forma intermitente ou mais regular", adianta Sónia Pereira.
"Essas informações têm sido transmitidas aos órgãos de polícia criminal, para perceberem se a entrada em Portugal está associada a esquemas criminosos, ou eventuais enganos. Esse trabalho ainda está a decorrer”.
A Renascença apurou que o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) tem nesta altura 10 inquéritos em curso em que investiga eventuais situações de auxílio á imigração ilegal e trafico de pessoas.
Para gerir este fluxo anormal de timorenses que tem chegado este ano ao nosso país, o Governo criou um grupo de trabalho que inclui representantes de oito ministérios, forças de segurança e entidades públicas nas áreas da segurança social, habitação, emprego e finanças.
No terreno, diz Sónia Pereira, está a ser dada “informação sobre direitos, está a ser feito o acompanhamento nas transferências para alojamento digno, apoio alimentar, apoio na questão da documentação que têm ou que precisam, e também encaminhamento para ofertas de trabalho que estamos a tentar que sejam acompanhadas de alojamento associado".
A Alta Comissária para as Migrações garante que o objetivo é ajudar as pessoas que já cá estão, mas garantir também que futuros interessados em viajar para Portugal “tenham á disposição um conjunto de elementos sobre os serviços em Portugal, que direitos têm, como é que podem encontrar trabalho, qual é o enquadramento legal. Precisamente para diminuir a fragilidade e a falta de proteção no fluxo migratório”.