O novo primeiro-ministro não deve excluir ninguém nenhum partido, nem mesmo o Chega, defende na Renascença Luís Mira Amaral, antigo ministro no governo minoritário de Cavaco Silva, que governou entre 1985 e 1987, até ser derrubado pelo PRD.
“Na altura, o PRD foi um epifenómeno que até deu muito jeito ao PSD, porque, logo a seguir, isso deu-nos uma maioria absoluta”, reconhece o antigo ministro e dirigente social-democrata que considera que a subida do Chega configura um fenómeno diferente do que se verificou em 1987.
“O Chega e André Ventura não são descartáveis” e que Luís Montenegro, “sendo minoritário, tem de dialogar com todos na Assembleia República e, obviamente, tem de falar com o Chega”.
Ao ‘não é não’ repetidas vezes afirmado pelo líder da AD durante a campanha eleitoral, Mira Amaral responde dizendo que “a história das linhas vermelhas acabou”, mas exclui a possibilidade de integrar elementos do Chega num Governo.
O antigo ministro lembra que “Luís Montenegro foi muito perentório na sua afirmação” e que, como tal, “não estará em condições de mudar de atitude agora”.
Contudo, acrescenta que “isso não significa que não tenha de negociar na Assembleia da República com o Chega e com outros partidos”.
Num paralelismo entre o atual momento político e as circunstâncias do Governo de Cavaco Silva que, depois de derrubado, foi confirmado com uma maioria absoluta, Mira Amaral aconselha Montenegro a formar governo à imagem do elenco governativo que esteve em funções entre 1985 e 1987.
“Tínhamos um governo com gente com grande experiência e gente mais jovem, como era o meu caso, mas todos com uma grande capacidade de coesão interna. Por isso, foi um governo que impressionou o país”, recorda Mira Amaral, que admite que Luís Montenegro poderá condicionar a manobra de Pedro Nuno Santos, se conseguir ter à sua volta um Governo capaz de transmitir confiança aos cidadãos.
O social-democrata reconhece que “Pedro Nuno Santos não pode ser culpado” por ter perdido estas eleições, “tendo de gerir a herança catastrófica do Governo maioritário de António Costa”.
Diferente, contudo, poderia ser um cenário em que o PS inviabilizasse a ação de “um Governo que impressione a opinião pública… aí, ele poderá querer pensar duas vezes antes de deitar o Governo abaixo. Porque depois pode ter de ir a eleições e pode perdê-las para a AD, o que já não seria tão fácil de gerir dentro do PS”.
Por outro lado, Luís Mira Amaral alerta Pedro Nuno Santos para o risco de esvaziamento do seu papel enquanto líder da oposição, “se não tiver atenção aos parceiros de esquerda”.
“Esta história o Bloco de Esquerda querer convocar todos os partidos para fazer uma frente de esquerda e o PS ir atrás, isso mais parece que a frente de esquerda é liderada pelo Bloco de Esquerda e não pelo PS que tem de ser o líder da oposição”, remata.