Cerca de meia centena de pessoas depende da cantina social da Santa da Misericórdia de Viseu. Em tempos de pandemia, o contacto social foi evitado e a cantina distribui ao domicílio as refeições, fins de semana incluídos.
Apesar do aumento de pedidos de ajuda, o provedor viseense acredita que haveria muitos mais, não fosse a vergonha.
“Nada mais volta a ser como dantes”, desabafa o Adelino Costa, 66 anos. Há oito anos que dirige a Santa Casa da Misericórdia de Viseu e teve, pela primeira vez, de alterar o modo de funcionamento da cantina social.
“No lar de S. Caetano, deixámos de ter esse serviço prestado à mesa, mas levamos à casa de cada um dos utentes a refeição”, revela à Renascença, acrescentando um pormenor que o preocupa: “os utentes da cantina deixaram de ter a parte social, de estar juntos”.
“Agora, cada um comerá sozinho em casa, mas por outro lado passámos a ter o serviço também ao fim de semana; um trabalhador da Santa Casa que leva a refeição às pessoas”, destaca.
Sozinhos, cada um em sua casa, recebem diariamente o almoço, bem servido para dar para o jantar se for necessário. Entre a meia centena de pessoas que depende da cantina social, há ainda “algumas situações especiais” refere o provedor.
“Duas famílias numerosas, a quem damos os bens alimentares, e estudantes brasileiros e dos PALOP, que estão em dificuldades. De 15 em 15 dias, damos um cabaz”, afirma Adelino Costa.
O provedor da Santa Casa da Misericórdia de Viseu teme que a vergonha afaste os novos carenciados. “Só passa fome quem não quer aparecer, por receio. Ajudamos as pessoas sem divulgação. Não tenho dúvidas nenhumas de que há pessoas que não estão preparadas. Têm de se envergonhar de roubar, mas não de pedir”, defende.
“Não tenham vergonha de pedir. É para isso que cá estamos”, apela Adelino, sublinhando a discrição. “Todos temos momentos altos e baixos. Basta vir uma pessoa contar a situação e nós resolveremos. Não tiramos fotografias nem precisamos dos nomes. Ninguém pode passar fome no Portugal de 2021”, sustenta.
Com mais este confinamento, Adelino Costa considera que vão aumentar os desempregos e as famílias vão ter menos rendimento, sendo que o apoio social vai ser cada vez mais premente.
“Não tenho dúvidas nenhumas que vai ser muito difícil às instituições manterem estes serviços de lares e apoio domiciliário e ajudar cada vez mais pessoas, porque estas instituições de cariz social estão praticamente todas elas descapitalizadas”, denuncia.
Com 505 anos de existência, a Santa Casa da Misericórdia de Viseu regista um aumento dos pedidos de ajuda – e não só de alimentação, mas também para pagamento de rendas e medicamentos. “Somos tipo bombeiro”, conclui o provedor.
A Santa Casa da Misericórdia de Viseu presta apoio ainda a 420 idosos e 450 crianças, nas diversas valências, entre lares, jardins infantis e creches.