“Professores a lutar também estão a ensinar". Esta foi uma das frases de luta mais ouvidas na manifestação de profissionais da educação, hoje, em Lisboa, num dia que o STOP, organizador do protesto, considerou "histórico".
À chegada ao Largo do Rato, a caminho do Parlamento, André Pestana, presidente do Sindicato de Tod@s @s Profissionais da Educação (STOP), pegou no megafone para comunicar que contabilizou "20 a 25 mil" professores e educadores presentes na manifestação.
"É um dia histórico", exultou o dirigente, sublinhando a diversidade geográfica da adesão ao protesto, enquanto o já clássico "Professores unidos jamais serão vencidos" também se fazia ouvir.
Anabela Magalhães veio de Amarante. Tem 61 anos e leciona história. “Estou aqui a lutar por uma escola pública de qualidade que é coisa que os políticos parecem não entender e perceber. Têm feito tudo para a destruir”, diz à Renascença. E deixa uma mensagem ao primeiro-ministro, António Costa: “O tempo do serviço dos professores conta-se. Não se rouba. Exijo que me contem cerca de seis anos e meio de tempo de serviço que me roubaram”.
Ainda que o ministro da Educação, João Costa, tenha desmentido as afirmações do sindicato sobre a possibilidade de a contratação de professores deixar de ser feita através de concurso nacional, passando essa responsabilidade para os municípios, muitos manifestantes insistiram neste ponto, como foi o caso de Anabela Magalhães.
"Não quero ser professora a mando de poderes políticos. Não quero estar numa profissão em que não sei o modo de graduação para se ficar em determinado lugar. Não me reconheço nesta escola que querem para o meu País”.
Entre as reivindicações dos docentes que encheram as ruas de Lisboa, nesta tarde de sábado, está também o apoio na doença. Paulo Sá, professor de biologia, diz que “não se pode fazer experimentalismo político com a saúde”. “As alterações que o governo fez ao regime de mobilidade por doença são um verdadeiro ataque à saúde dos professores que dele precisam”.
Junto à assembleia da República, onde terminou o protesto, Maria Cristina Moreira, docente de português, no distrito de Viseu, explica estar em Lisboa “por anos e anos de maus-tratos, falta de respeito, alta de condições de trabalho” alertando também para as condições dos professores que “todos os dias fazem quilómetros e quilómetros sem ajudas de custos, a deixar 300 euros na estrada, a pagar segundas casas, a comerem latas de atum e a tomarem antidepressivos para conseguirem trabalhar”.
“Grande mobilização de norte a sul do País”
Antes do início do desfile, André Pestana dizia à Lusa que os professores estão "a dar um exemplo de grande cidadania e a demonstrar ao Governo que estão mais determinados do que nunca em defender a escola pública de qualidade e a valorização da classe docente".
Os manifestantes reclamam respostas a questões como a possibilidade de os diretores poderem escolher professores sem terem em conta a graduação profissional; a ausência de contagem de tempo de serviço que esteve congelado; as quotas de acesso aos 5.º e 7.º escalões; e a penalização na aposentação após 36 anos de serviço.
Estes motivos levaram o STOP a decretar uma greve "por tempo indeterminado" -- iniciada em 09 de dezembro e mantida até dia 16, com retoma anunciada para o início do 2.º período letivo, com pré-avisos entregues para todo o mês de janeiro.
A greve do STOP levou ao encerramento total ou parcial de várias escolas ao longo dos últimos seis dias úteis.
À Lusa, André Pestana sublinhou que, "se a classe quiser, ainda em dezembro" poderá haver nova greve, para além da já anunciada para janeiro.
"Uma coisa é clara: parecia que a classe docente estava parada e, neste momento, é inegável, está uma grande mobilização, de norte a sul do país", notou.
O ministro da Educação - realçou - "está claramente incomodado" e "isto é só o início", sublinhou, prometendo "a maior luta de sempre".
Na sexta-feira, o ministro João Costa mostrou-se surpreendido com a paralisação, argumentando que estão a decorrer negociações com os sindicatos e garantindo que o executivo está nelas de boa-fé.
"Sempre dissemos que queremos fazer parte da solução e não do problema. Se o Ministério da Educação reconhecer que tem cometido erros e que vai ceder em questões importantes, estamos disponíveis para negociar", assegurou o presidente do STOP.
Joana Mortágua, deputada do Bloco de Esquerda (BE), juntou-se à manifestação na paragem no Largo do Rato, onde algumas professoras depositaram três "cotonetes gigantes" à porta da sede do "partido no poder".
Em declarações à Lusa, disse estar solidária com "os milhares de professores que sentem que o estado de degradação da sua carreira" afeta a escola pública.
"Isto demonstra o sentimento de injustiça que os professores estão a viver. Todos eles. E acho que vamos ver, daqui para frente, grandes mobilizações de professores (...). Frente a uma maioria absoluta que bloqueia, no Parlamento, as propostas para melhorar a carreira dos professores, que bloqueia as negociações, a rua tem de falar", destacou.
"Chegámos a um ponto de gota de água, porque as negociações não estão a ir a lado nenhum" e as propostas do Governo "são "inaceitáveis", considerou a deputada, apontando que "o Governo vai contornando a falta de professores com mitigações que só pioram" a situação.
"O tempo de serviço não se poupa, conta-se", reivindicou Anabela Magalhães, professora de 61 anos e quase 40 de serviço, que colocou um dos cotonetes à porta da sede do Partido Socialista (PS).