Os ministros dos Negócios Estrangeiros do G7 pediram esta quarta-feira que sejam implementadas pausas humanitárias na guerra entre Israel e o Hamas, para permitir a entrada de ajuda humanitária na Faixa de Gaza, e que os reféns sejam libertados, para se poder voltar a um "processo de paz alargado", numa altura em que as forças israelitas continuam a bombardear o enclave palestiniano.
No final de um encontro de dois dias em Tóquio, no Japão, o grupo dos sete países mais industrializados do mundo - Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido - e o chefe da diplomacia da União Europeia, disseram em comunicado conjunto que Israel tem o direito a defender-se, mas que é necessário proteger os civis e respeitar a lei humanitária internacional.
"Os membros do G7 estão empenhados em preparar soluções sustentáveis de longo prazo para Gaza e em retomar um processo de paz alargado em linha com os pârametros acordados a nível internacional. Apoiamos pausas humanitárias e corredores que facilitem a entrega de assistência urgente, permitam o movimento de civis e a libertação dos reféns."
No mesmo comunicado, os sete MNE dizem ainda que partilham a opinião de que "a solução de dois Estados [Israel e Palestina] continua a ser o único caminho para uma paz justa, segura e duradoura".
Esta é apenas a segunda vez que o G7 difunde um comunicado sobre a guerra entre Israel e o Hamas desde que militantes armados do Hamas entraram no sul de Israel a 7 de outubro, matando 1.400 pessoas e levando cerca de 240 reféns para Gaza.
Desde esse dia, no espaço de um mês, os bombardeamentos diários de Israel a Gaza já mataram mais de 10 mil palestinianos, cerca de 40% deles crianças, de acordo com o balanço oficial do Hamas, que controla Gaza desde 2007.
"Acredito ser importante que o G7 tenha conseguido uma mensagem unificada por uma pausa humanitária em termos da responsabilidade que o G7 tem para com a comunidade internacional", destacou aos jornalistas o ministro japonês dos Negócios Estrangeiros, Yoko Kamikawa.
Questoinado sobre se todos os membros do Grupo dos 7 concordaram em pedir pausas humanitárias ou se alguns prefeririam um cessar-fogo total, o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, disse em comunicado que a postura conjunta "reflete de forma muito precisa" o que foi discutido e que existe "real união" no bloco.
No mesmo comunicado, o G7 reitera ainda o seu contínuo apoio à Ucrânia, que foi invadida pela Rússia em fevereiro de 2022, sublinha a necessidade de apostar nas relações com a China e condena os testes de mísseis executados recentemente pela Coreia do Norte, a par da troca de armas com a Rússia.
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, admite considerar "pequenas pausas táticas" mas, com o apoio dos EUA e de outros países ocidentais, tem rejeitado os repetidos apelos por um cessar-fogo, sob o argumento de que permitiria ao Hamas reagrupar-se.
Houve indícios de que o G7 tem tido dificuldades em alcançar uma abordagem unida e firme contra a guerra, levantando questões sobre a sua relevância e força para responder a grandes crises internacionais.
O único outro comunicado do G7 sobre a guerra no Médio Oriente, curto e contido, tinha surgido a 12 de outubro, cinco dias depois de estalar o conflito, na sequência de um encontro dos ministros das Finanças do grupo.
Plano de longo termo
Num jantar de trabalho na terça-feira, os ministros também discutiram o que pode acontecer assim que a guerra em Gaza retroceda e como se pode revitalizar os esforços de paz no Médio Oriente, indicou o Japão em comunicado.
Israel tem sido vago quanto aos seus planos de longo prazo para Gaza. Em alguns comentários diretos ao assunto, Netanyahu disse esta semana que Israel vai tentar ficar responsável pela segurança na Faixa de Gaza "por um período indefinido de tempo" após a guerra.
Já o seu ministro dos Negócios Estrangeiros, Eli Cohen, disse ao Wall Street Journal que Israel quer que o território palestiniano passe a ser controlado por uma coligação internacional, incluindo os EUA, a UE e países muçulmanos da região, ou administrado pelos líderes políticos em Gaza.
Aos jornalistas depois das reuniões do G7, Blinken disse que Gaza não pode continuar sob controlo do Hamas, mas também não pode passar para as mãos de Israel.
"Agora, a realidade é que poderá provar-se necessário algum tipo de período de transição no finaldo conflito... Não vemos uma reocupação e o que tenho ouvido dos líderes israelitas é que não têm qualquer intenção de reocupar Gaza."
Diplomatas em Washington, na ONU, no Médio Oriente e noutras partes do mundo já deram início às discussões sobre as alternativas para a Faixa de Gaza no pós-guerra.
Entre as alternativas debatidas está o envio de uma força multinacional para Gaza, uma administração interina liderada pelos palestinianos que excluiria elementos do Hamas, um papel provisório de segurança e governação dos Estados árabes vizinhos e a supervisão temporária do território pela ONU, como noticiou a Reuters no início do mês.
Depois da reunião do G7 em Tóquio, Blinken vai a caminho da Coreia do Sul para a sua primeira visita ao país em mais de dois anos. Em Seul, deverá debater o fortalecimento das relações bilaterais EUA-Coreia perante crescentes receios quanto às ligações militares entre Coreia do Norte e Rússia.