O céu límpido e azul da Mongólia que abraça a terra vasta e imponente, foi o mote usado pelo Papa para recordar a todos “a necessidade de olhar para o alto a fim de encontrar a rota do caminho na terra.”
No encontro ecuménico e inter-religioso que se realizou esta manhã num teatro de Ulan-Bator, o Santo Padre agradeceu as intervenções de onze líderes de diferentes confissões religiosas. “O próprio facto de estarmos juntos no mesmo lugar já é uma mensagem: as tradições religiosas, na sua originalidade e diversidade, constituem um formidável potencial de bem ao serviço da sociedade”, afirmou. “Se quem possui a responsabilidade das nações escolhesse o caminho do encontro e do diálogo com os outros, contribuiria de forma decisiva para acabar com os conflitos que continuam a causar sofrimento a tantos povos”. Neste contexto, o Papa condenou “o fechamento, a imposição unilateral, o fundamentalismo e o forçamento ideológico que arruinam a fraternidade, alimentam tensões e põem em risco a paz”.
Sentado num palco, lado a lado, com os outros líderes religiosos, Francisco sublinhou a grande responsabilidade de todos, “especialmente nesta hora da história, porque o nosso comportamento é chamado a confirmar nos factos os ensinamentos que professamos; não os pode contradizer, tornando-se motivo de escândalo”.
Num país maioritariamente budista, o Papa reafirmou que não pode haver “nenhuma confusão entre credo e violência, entre sacralidade e imposição, entre percurso religioso e sectarismo” e espera que a memória dos sofrimentos vividos no passado “nos dê a força de transformar as negras feridas em fontes de luz, a insensatez da violência em sabedoria de vida, o mal que arruina em bem que constrói”. É que “o diálogo não se contrapõe ao anúncio: não nivela as diferenças, mas ajuda a compreendê-las, preserva-as na sua originalidade e permite-lhes confrontar-se para um franco e mútuo enriquecimento”, acrescentou.
Neste encontro histórico, Francisco afirmou que as religiões são chamadas a oferecer ao mundo uma harmonia que o progresso técnico, por si só, não
pode dar, “pois, ao visar a dimensão terrena e horizontal do homem, corre o risco de esquecer o céu, para o qual fomos feitos”. Por isso, “quando nos encontramos, comprometemo-nos a partilhar o bem que recebemos, para enriquecer uma humanidade que frequentemente, no seu caminho, é desorientada por buscas míopes de lucro e bem-estar, voltada apenas para os interesses terrenos, acabando por arruinar a própria terra, confundindo o progresso com o retrocesso, como mostram tantas injustiças, tantos conflitos, tantas devastações ambientais, tantas perseguições, tanta rejeição da vida humana".
Ao valorizar o grande património de sabedoria da Mongólia, “que as religiões aqui difundidas contribuíram para criar”, o Papa convidou todos a descobrir, valorizar e aprofundar esta riqueza comum. ”O facto de nos encontrarmos aqui hoje é sinal de que é possível ter esperança. Num mundo dilacerado por lutas e discórdias, isto poderia parecer utópico”, afirmou. ”Façamos florescer a certeza de que não são vãos os nossos esforços comuns para dialogar e construir um mundo melhor. Cultivemos a esperança”.
Além do Papa, este encontro contou com as intervenções de líderes do budismo mongol, do xamanismo, do islão, da aliança evangélica, da igreja ortodoxa russa, da igreja adventista do sétimo dia, da igreja de Jesus Cristo dos santos dos últimos dias, do hinduísmo, do judaísmo, do xintoísmo e da comunidade Baha’i da Mongólia