Há quem espere seis meses para iniciar os tratamentos contra o cancro, mas claro que estes são casos extremos, também há quem espere apenas quatro dias. Um estudo da Universidade Católica mostra que, em média, passam 58 dias entre o diagnóstico e o início do tratamento, quando o recomendado são 30 no máximo.
O oncologista Luís Costa, que coordenou este estudo pioneiro, porque analisou as várias dimensões do cancro da mama em Portugal, defende que há um conjunto de ações a melhorar no circuito destas mulheres para que todo o processo seja mais rápido.
“É fundamental que as mulheres tenham acesso a um médico assistente, que pode ser um médico de família, e que esse médico possa referenciar a doente a tempo e horas para um centro hospitalar e que esse centro hospitalar tenha capacidade para responder ao diagnóstico de cancro da mama”, defende.
Esta capacidade é essencial e nem sempre está garantida: aliás os administradores hospitalares consultados referem que há poucos profissionais para tantos doentes e os hospitais nem sempre dispõem dos meios técnicos necessários, aponta Luís Costa.
“Todas as especialidades que são requeridas, são necessárias, portanto, se não houver possibilidade de fazer os exames necessários para estadiamento da doença, a eficácia do plano terapêutico pode ficar comprometida, e essa foi uma das notas que os administradores hospitalares fizeram notar: há falta de recursos nos exames complementares, particularmente nos hospitais públicos”, adianta.
Acompanhamento feito com consultas específicas
O estudo defende que o acompanhamento das mulheres com cancro deve ser feito com consultas muito especificas e com integração regular entre especialidades médicas e não médicas.
“Mesmo quando a mulheres ficam curadas, e são a maioria, há consequências que têm de ser abordadas em consultas de seguimento que tenham em consideração os aspetos psicológicos, o controlo da dor e até aspetos sociais muito importantes, porque estas mulheres têm de continuar a trabalhar e a legislação laboral nem sempre prevê a adaptação adequada a novas funções”, sublinha Luís Costa.
No estudo, constata-se também uma baixa adesão aos rastreios. Na maior parte dos casos, os cancros da mama são detetados por auto- palpação, ou seja, numa fase em que o prognóstico pode ser pior.
“Há circunstâncias em que as mulheres têm tumores de crescimento rápido, que surgem entre os exames rastreio, mas o ideal é que os tumores sejam encontrados muito pequenos, numa fase em que ainda não são detetáveis pela auto palpação. Isto significa que se não são feitos rastreios vamos ter cada vez mais mulheres a palparem os seus próprios tumores e isso significa que têm tamanhos maiores e piores prognósticos””, esclarece.
O Estudo Católica H360º foi realizado com dados de sete hospitais de norte a sul do país: IPO do Porto, IPO de Coimbra, Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Norte, Centro Hospitalar Trás-os-Montes e Alto Douro, Hospital do Espírito Santo, em Évora, Centro Hospitalar Universitário do Algarve, e o Hospital da Luz, em Lisboa. O que se pretendeu foi analisar as múltiplas dimensões da doença, com as perspetivas dos doentes, dos profissionais e dos serviços de saúde.