Foi o fim do Processo Revolucionário Em Curso (PREC) e o desfecho de um ano em que aconteceu praticamente tudo o que podia acontecer – de ataques bombistas a uma greve no próprio governo.
A Renascença fez a pergunta “Onde é que estava no 25 de Novembro de 1975?” ao jornalista e escritor Baptista Bastos, ao ex-chefe de Estado Maior do Exército Martins Barrento, ao antigo chefe do Estado-maior general das Forças Armadas Valença Pinto, ao então deputado Jaime Gama e ao ex-ministro do Estado Novo Adriano Moreira.
Baptista Bastos
“Estava a dormir. Mas pressentia que a sociedade portuguesa não podia aguentar tanta tensão. A gente vivia numa tensão terrível, sobretudo as pessoas que pensam à esquerda. Era uma situação muito tensa.
Tenho uma história. Vivíamos [Baptista Bastos e a mulher] em Alfama [Lisboa], nessa altura e, no dia 26, tínhamos decidido ir almoçar fora. E uma vizinha que nós tínhamos sempre tratado muito bem, disse ‘lá vão eles, lá vão eles, estão cheios de medo!’. Coitada... A sociedade era muito esquisita.”
Martins Barrento
“Fui o primeiro oficial a sair para a rua. Estava no CIAC (Centro de Instrução de Artilharia Antiaérea de Cascais) e saí com uma bateria antiaérea para o Regimento de Comandos. Para mim, era uma situação perfeitamente clara. E, por isso, a minha atitude era absolutamente consciente.
Sabíamos que havia situações que tinham de ser evitadas e, quando se colocou a questão de repor a legalidade democrática e a estabilidade democrática, e, quando as ordens vieram do sítio de onde vinham e eram perfeitamente legítimas, o que havia a fazer era obedecer e arrancar e sair para o local determinado.”
Valença Pinto
“Eu era capitão, estava ao serviço do meu país no exército português. Nessa tarde do 25 de Novembro, estava no Palácio de Belém, junto do núcleo que tratou da dimensão político-militar, e tinha, com um outro camarada, a responsabilidade pelas informações.
Eu era muito jovem, recém-casado, com filhos muito pequenos, e senti que eu também lhes devia, aos meus filhos, fazer aquilo que estava a ser feito.
Tinha a consciência plena de que, de um ponto de vista pessoal, as coisas podiam correr de forma desagradável. Se corressem de forma desagradável para o país, também iam correr de forma desagradável para mim.
Posso dizer-lhe - já passaram tantos anos - que eu e a minha mulher tínhamos no bolso, cada um, cartas de chamada para o Canadá, onde tínhamos familiares e sabíamos que podíamos ter um porto de abrigo se fosse necessário”.
Jaime Gama
“Saí do serviço militar em Março de 1975 para ser candidato a deputado e era deputado à Assembleia Constituinte. E acompanhei no meu campo político o 25 de Novembro de 75 - o antes, o durante e o depois do 25 de Novembro de 75.
Foi um ano importante em que ficaram claros os projectos que existiam para a sociedade portuguesa, em que ficou bastante claro qual era a opção do povo português em eleições livres. E, depois, ficou também bastante claro que as Forças Armadas se recentravam e viabilizavam que a democracia fosse o futuro de Portugal.”
Adriano Moreira
“Estava em casa a tratar do meu filho mais velho, que era uma criança de berço e estava com uma febre altíssima. Quem me deu mais informações foi a minha irmã, que me telefonou.
A minha leitura é que quem transformou um movimento militar em construtor da democracia foram as Forças Armadas.”