A Cáritas de Coimbra apoia centenas de pessoas, muitas que sobrevivem com o rendimento social de inserção, mas a pandemia agravou a situação das famílias, e trouxe dificuldades a muitas outras. Cristina Melo, diretora do Centro Comunitário de Inserção da Cáritas, que funciona na baixa de Coimbra, confirma que estão a receber novos pedidos de ajuda relacionados com a perda de rendimentos.
“São essencialmente casais novos com filhos ou famílias monoparentais. Destes temos processos novos, que nos apareceram pela primeira vez, mas também temos algumas famílias que já tínhamos acompanhado, que já estavam a trabalhar e com as vidas estabilizadas, e que agora, com a pandemia, estão em casa em 'lay-off', com os salários reduzidos a quase metade e estão em grande dificuldade”, diz à Renascença aquela responsável.
Os novos casos “foram sinalizados pelos técnicos. Temos cerca de 20 famílias com crianças, que abarcam 51 pessoas. Mas ainda ontem nos chegaram mais duas famílias”, revela.
Famílias que adotam famílias
O aumento dos pedidos de ajuda levou a Cáritas Coimbra a lançar esta quarta-feira, 15 de abril, a campanha ‘Somos Família’, que desafia famílias que possam, a ajudar outras que precisam, assegurando-lhes a entrega de alimentos.
“O objetivo é esse: é uma família poder ‘adoptar’ outra família e dar-lhe um cabaz mensal, até que passe esta fase mais complicada da pandemia”, explica Cristina Melo que, sem querer dramatizar, garante que há fome.
“Há escolas que estão a fornecer o almoço, mas sabemos que as crianças não almoçam só, têm de tomar o pequeno almoço, lanchar e jantar”. E sublinha: “o que nos preocupa mais neste momento é mesmo a questão do apoio alimentar. E queremos apelar à sociedade civil, à responsabilidade social de todos, que cada um possa contribuir para fazer outra família sorrir”.
Quem quiser ser uma “família mecenas” - como lhes chama - pode entrar em contato com a Cáritas de Coimbra através do email do Centro Comunitário de Inserção ou pelo telefone 239 855 840.
“Perguntamos que tipo de família está disposta a apoiar, e descrevemos o agregado, em termos de idades, constituição e problemáticas”. O apoio pode ser entregue diretamente, mas “se quem dá não quiser manter esse contacto, recolhemos o cabaz e somos nós que o entregamos à família escolhida”.
Venda de máscaras para comprar produtos frescos
Com o outro projeto lançado esta semana - o projeto da “Máscara Solidária” -, a Cáritas de Coimbra espera conseguir complementar os cabazes com produtos frescos. Porque embora o que recebem para distribuir seja, sobretudo, mercearia, as necessidades de alimentação são mais variadas.
“O ideal é que quando vamos entregar um cabaz a uma família que tem crianças pequenas, conseguirmos também levar carne, peixe, iogurtes, manteiga, um queijo. Portanto, o dinheiro da ‘máscara solidária’ vai ser revertido totalmente para a compra desses bens frescos”, explica.
Fazer máscaras começou por ser uma necessidade das próprias técnicas do centro, para tornar mais seguro o atendimento direto aos utentes , mas a crescente procura deste material, mesmo caseiro, levou-as a pôr “mãos à obra”.
”As máscaras estão a ser elaboradas por nós, pela equipa do Centro Comunitário de Inserção, mas desde ontem que já temos a ajuda de algumas colegas dos ATL – que agora estão fechados -, porque estamos a receber a um elevado número de pedidos”, refere.
Cada máscara solidária, com cinco filtros, custa três euros, e pode ser encomendada ao Centro Comunitário de Inserção, que ainda está a avaliar a melhor forma de responder aos pedidos que cheguem de mais longe. “Vai implicar custos, talvez possa ser contra-reembolso, ainda não sabemos”.
Atendimentos continuam, mas à porta fechada
Cristina Melo explica que esta atenção aos novos pedidos de ajuda não prejudica os restantes apoios que o Centro Comunitário de Inserção continua a garantir na Rua Direita, na baixa de Coimbra. “Fazemos os atendimentos normalmente, mas à porta fechada, por uma janela, para não descurar os agregados que já estávamos a apoiar”.
Conta que entre a população em situação de sem abrigo já notaram mudanças. “Muitos agora, com a pandemia, já nos pedem para arrendar um quarto, quando até aqui havia sempre dificuldades para os convencer a isso. Mas, nos centros de acolhimento neste momento está complicado, não fazem admissões”.
A preocupar a Cáritas de Coimbra está também a situação de “muitas pessoas de origem brasileira, que estavam a trabalhar de forma ilegal, não só por não terem contrato, mas também em termos de documentação, e que por isso não podem recorrer aos apoio sociais que existem”.
A instituição católica continua, também, a apoiar as famílias no pagamento da água, luz e rendas, com a ajuda “da Segurança Social e do Fundo de Emergência Social da Câmara de Coimbra, que disponibiliza verbas para esses pagamentos”. E espera conseguir alargar esses apoios à internet. “Até agora esse era considerado um bem supérfluo, mas neste momento temos que começar a pensar duas vezes, porque as crianças que estão em casa precisam da internet para estudar”.
“Estamos a tentar fazer um apoio o mais diversificado possível”, garante Cristina Melo, que deixa um apelo em especial à população de Coimbra para que contribua para os cabazes alimentares, porque “neste momento não podemos fazer campanhas nos supermercados”.